As ações para devolver a Ararinha-Azul à natureza começaram há muito tempo, para que hoje seja possível contar os dias para o retorno da espécie, muito trabalho foi feito. Desde que a ave foi extinta da natureza por volta do ano de 2000, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) traçam estratégias para reintroduzir a ave em seu habitat natural, a Caatinga do Nordeste. A principal estratégia é o Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação da Ararinha-Azul, cuja a primeira fase durou de 2012 a 2017 e envolveu agentes de diversos países na reprodução em cativeiro.
Segundo Camile Lugarini, analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), do ICMBio, órgão ligado ao MMA, o grande objetivo dos primeiros seis anos de operação era conseguir aumentar a escassa população em cativeiro. Quando o PAN Ararinha-Azul foi publicado, existiam pouco mais de 70 indivíduos da espécie em todo o mundo. “Tínhamos no mundo uma população de cativeiro muito baixa. À época eram apenas 73 aves”, conta a médica veterinária responsável pelo Centro de Reprodução e Reintrodução da Ararinha-Azul, montado na cidade baiana de Curaçá. Será lá que 50 aves vindas da Alemanha vão se aclimatar antes de serem soltas na natureza.
Lugarini conta que uma das maiores vitórias do ciclo ocorreu em 2013, quando um dos parceiros, a Instituição de Preservação da Vida Selvagem Al Wabra, do Qatar, conseguiu sucesso em reprodução artificial e começou a reproduzir filhotes. “Se antes não conseguíamos mais do que dez animais por ano, chegamos a 26 com a Wabra. Só então tivemos um aumento significativo dos animais em cativeiro. De acordo com modelos anteriores, precisávamos de, pelo menos, 150 animais em cativeiro para que o programa desse certo, para que tivéssemos um plantel com determinada estabilidade. Esse número foi alcançado em 2017, o que viabilizou o segundo ciclo pelo qual estamos passando hoje, que é o de reintrodução da espécie na natureza”, relata a veterinária.
Um dos diferenciais no processo de recuperação da espécie foi a parceria entre o setor privado e o governo brasileiro. O principal parceiro foi a Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP), localizada em Rüdersdorf (Berlim). O criadouro alemão, aliás, recebeu a maioria das ararinhas da Al Wabra quando esta encerrou seus trabalhos. A participação de um zoológico da Bélgica e outro da Cingapura também foi fundamental no processo.
O programa de cativeiro foi o carro-chefe do Pan Ararinha-Azul, mas Lugarini lembra outros pontos importantes do primeiro ciclo. “Não podemos esquecer todo o empenho em pesquisa e aquisição de recursos para que o Plano de Ação desse certo”, aponta a analista ambiental do ICMBio. “Primeiro houve a criação da Unidade de Conservação (UCs) onde ocorrerá a aclimatação e soltura das aves em Curaçá. Ele saiu em 2018, mas todos os estudos para viabilizá-lo foram realizados no primeiro ciclo. Ele é importante porque você vai ter no local uma gestão do ICMBio, e vai ter uma garantia maior de proteção dessas aves, de continuidade do trabalho, de suporte, como a educação ambiental e apoio ao turismo e desenvolvimento socioeconômico do local, por exemplo. A captação de recurso junto aos parceiros também foi importante, porque era preciso financiar as pesquisas necessárias, construir o centro, capacitar profissionais, promover educação ambiental, enfim, toda a preparação para a segunda fase que é a reintrodução da ave propriamente dita.”
O primeiro ciclo do Plano de Ação Nacional pavimentou a estrada para o ápice da missão do governo brasileiro, que é a reintrodução da Ararinha-Azul em seu habitat natural. O segundo ciclo, a ser desenvolvido entre 2019 e 2024, pretende restaurar a vivência da espécie na Caatinga. “Tudo o que foi feito no primeiro ciclo precisa continuar, pois precisamos manter as populações em cativeiro e aumentar essa população. Essas aves serão necessárias para outras fases desse processo de reintrodução da Ararinha-Azul na natureza”, destaca Lugarini. “Também precisamos continuar o trabalho junto à comunidade para que ela entenda a importância da ave na região. A presença da Ararinha-Azul vai ajudar a aumentar o turismo local, que já é forte, e dar força à preservação do bioma.”
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