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Resíduos sólidos no meio rural: problemas viram oportunidades

Publicado: Sexta, 25 Outubro 2013 18:34 Última modificação: Terça, 29 Outubro 2013 15:57
Crédito: Martim Garcia/MMA meio rural:Izabella quer logística reversa no campo meio rural:Izabella quer logística reversa no campo
Para a ministra, há necessidade de soluções especificas e alternativas para o setor

SOPHIA GEBRIM

A correta destinação de dejetos animais, embalagens de agrotóxicos e lubrificantes, sucatas de maquinário agrícola e outros resíduos gerados no interior do país foi o tema discutido no painel Gerenciamento de Resíduos no Meio Rural, na manhã desta sexta-feira (25/10), no ciclo de debates da 4a Conferência Nacional do Meio Ambiente (CNMA), que acontece até o próximo domingo (27/10), em Brasília. 

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, participou do debate e destacou a necessidade de soluções específicas e alternativas para o setor dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), tema central da 4a CNMA. “Infelizmente, a lei não dialoga completamente com o campo, no entanto, como podemos resolver isso?”, questionou. “As pessoas terão que andar 70 km ou mais para entregar o lixo, como o catador vai encontrar soluções nessas áreas distantes?”.

LOGÍSTICA REVERSA

Para a ministra, é necessário saber como será feito o tratamento desses resíduos no meio rural, para que a região não seja uma alternativa para os resíduos gerados no meio urbano. “Se um determinado produto chega e é vendido no campo, deve existir uma logística reversa para o mesmo”, afirmou, referindo-se ao processo pelo qual os rejeitos são recolhidos pelo fabricante ou comerciante. Segundo ela, as alternativas para esse debate devem aprimorar a visão de baixo para cima, mostrando as soluções de modo que cada setor envolvido nesse processo tenha o seu papel definido.

O secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Paulo Cabral, fez a apresentação do tema. “É importante ter alternativas para a gestão dos resíduos no campo, queremos aproveitar essa oportunidade de diálogo para expor alternativas e verificar o que já funciona e pode ser replicado”, disse. Cabral destacou, ainda, o papel de comunidades que historicamente vivem no campo e nas florestas e contribuem com a preservação do meio ambiente e que também precisam de soluções para a destinação de lixo.

Como coordenador do painel, o prefeito de São Gabriel do Oeste (MS), Adão Rolim, explicou o que vem sendo feito na cidade, inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Paraguai, e abriga as nascentes de dois rios de grande importância para a Planície Pantaneira, o rio Coxim e o rio Aquidauana. “Como somos grandes produtores de suínos, queremos que a nossa atividade seja sustentável”, afirmou. Ele explicou que mais de 2,5 mil pessoas, envolvidas com a suinocultura na região, já trabalham há alguns anos com o recolhimento e reciclagem de embalagens de agrotóxicos, além de atuarem já com práticas se conservação do solo, recuperação de matas nativas, educação ambiental e transformações de dejetos animais em energia. 

PESQUISA
 

Como pesquisadores do tema de resíduos sólidos no meio rural, Regina Rosa, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Ivan Bergier, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) unidade Pantanal, apresentaram o que já vem sendo desenvolvido na área. “Um dos pontos que verificamos é que o resíduo gerado no processo produtivo do campo não gera problemas, pois é facilmente reutilizado como adubo, fertilizante e fonte de energia. O que verificamos é a falta de incentivos e políticas para o resíduo gerado na agroindústria, além de embalagens de medicamentos veterinários e de fertilizantes”, disse Regina.

Além do potencial energético, os resíduos animais podem se tornar importante fonte de alimentação e de nutrientes para o solo. “O avanço na melhoria de técnicas para reutilização desses resíduos e a criação de fundos de investimento são algumas das sugestões gerais que identificamos com o estudo do IPEA, de modo geral a incentivar o reaproveitamento do material inutilizado no meio rural”, destacou. Um ponto positivo apresentado por Regina é que 95% das embalagens de agrotóxicos hoje já são recicladas. “Por outro lado, a avaliação negativa da pesquisa é que 11 milhões de toneladas de lixo da área rural ainda não são recolhidas”, acrescentou.

Ivan Bergier, da Embrapa Pantanal, que lidera uma pesquisa sobre tratamento de dejetos da suinocultura, aposta em uma mudança de filosofia e de pensamento para solucionar o problema. “Temos que reduzir a entrada de insumos não renováveis no campo, reduzir o impacto do efeito estufa, além de tentar aumentar a sustentabilidade da agricultura brasileira e a geração de energia limpa e renovável”, assegurou. Segundo ele, se o agricultor conseguir produzir energia a partir de fontes renováveis limpas, é possível reduzir a emissão de gases efeito estufa e a poluição das áreas de preservação ambiental. Além disso, com a geração de energia por meio da biodigestão (método de reciclagem que resulta na produção de adubo), o agricultor pode diversificar a sua fonte de renda.

Bruno Caporrino, assessor do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé) apresentou um trabalho que vem sendo desenvolvido há mais de 30 anos entre os índios Wajãpi, no Estado do Amapá. “É um povo que historicamente produz tudo o que precisa e sabe destinar corretamente o que sobra desse material, porém, com o atual processo de industrialização, muitas vezes os índios não sabem o que fazer com os resíduos que surgem nas suas aldeias”, explicou. Segundo ele, uma alternativa que vem sendo implantada é a construção de malocas específicas para o armazenamento de lixo nas aldeias. “São comunidades que possuem uma visão ambiental engajada com as suas necessidades sociais, sem agredir o meio ambiente e os recursos naturais”. 

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