A alta concentração de gás carbônico na atmosfera, gerada pelo uso de combustíveis fósseis, como os derivados do petróleo, está dando uma nova cara à floresta amazônica. De acordo com um estudo publicado ontem na revista científica Nature, a poluição atmosférica está alterando o ritmo de crescimento das árvores, mesmo em áreas remotas da floresta. O estudo é parte do Experimento em Larga Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) e é realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) em parceria com instituições de pesquisa americanas e européias.
Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e do Smithsonian Tropical Research Institute, do Panamá, analisaram, durante 15 anos, uma área de cerca de 300 quilômetros quadrados da Amazônia, ao norte de Manaus.
Neste período pudemos observar uma ampla modificação na composição das árvores", conta o professor Alexandre Adalardo de Oliveira, do Departamento de Ecologia Geral do Instituto de Biociências (IB) da USP. "Percebemos que algumas espécies de árvores de porte menor, que habitam o interior da floresta, têm suas populações diminuindo em detrimento das mais altas, que crescem mais rapidamente e tem suas copas a pleno sol. E isso pode estar relacionado ao aumento do gás carbônico na atmosfera."
A pesquisa constatou que as árvores estão morrendo mais cedo e sendo substituídas por árvores jovens mais rapidamente. A longo prazo, isso pode indicar que a floresta corre o risco de perder biodiversidade. A predominância de árvores jovens pode significar, ainda, a redução da capacidade da floresta de retirar dióxido de carbono da atmosfera.
Segundo o artigo na Nature, a causa mais provável dessas mudanças é a concentração de gás carbônico na atmosfera. Os pesquisadores acreditam que esse excesso de gás carbônico está aumentando a competição por luz, água e nutrientes do solo, beneficiando as espécies com ritmo de crescimento acelerado.
"Está claro que a variação não é aleatória. A dinâmica da floresta está mudando, disse à Nature o coordenador da pesquisa, William Laurance, do Instituto Smithsonian de Pesquisas Tropicais dos Estados Unidos, que tem sede no Panamá. Os cientistas acreditam que essa inesperada mudança no padrão de crescimento das árvores pode ser um indício de modificações mais profundas não só no ecossistema da Floresta Amazônica, mas também em florestas tropicais de outras partes do mundo. (Nature e USP)
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