O subprojeto da Caatinga foi conduzido por um consórcio formado pela Universidade Federal de Pernambuco (coordenação-geral), Fundação Biodiversitas, Conservation International do Brasil e Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal de Pernambuco. A estes se juntou, durante a fase de realização da reunião de trabalho, a EMBRAPA Semi-Árido. Esse consórcio foi responsável por todas as etapas de planejamento e de execução do subprojeto e pelo acompanhamento posterior da implementação dos seus resultados. A iniciativa também recebeu apoio da Secretaria de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, SUDENE, Prefeitura Municipal de Petrolina e Universidade Federal Rural de Pernambuco.
O workshop de Caatinga foi realizado em Petrolina, PE, entre 21 e 26 de maio de 2000, e contou com a participação de 115 pesquisadores. A dinâmica de trabalho envolveu, inicialmente, a formação de seis grupos temáticos biológicos flora, invertebrados, biota aquática, répteis e anfíbios, aves e mamíferos que discutiram o estado de conhecimento e as lacunas de informação por área temática. Os critérios adotados para a identificação das áreas prioritárias de cada grupo foram: distribuição e riqueza de elementos especiais da biodiversidade e a presença de fenômenos biológicos únicos, tais como zonas de contato entre biotas, áreas de repouso ou invernada de migrantes e comunidades biológicas especiais. As áreas prioritárias definidas pelos grupos temáticos biológicos foram então classificadas em quatro categorias, de acordo com a sua importância biológica. As categorias de extrema importância, de muito alta importância e de alta importância representam níveis decrescentes de importância biológica. A quarta categoria, áreas de potencial importância, mas com conhecimento insuficiente, classifica aquelas áreas aparentemente bem conservadas, mas com lacunas enormes de conhecimento sobre suas biotas.
Outros quatro grupos não-biológicos estratégias de conservação, fatores abióticos, pressão antrópica e desenvolvimento regional e uso sustentável da biodiversidade reuniram-se paralelamente aos grupos biológicos para gerarem produtos específicos. Com o objetivo de facilitar a integração dos resultados obtidos, os grupos temáticos foram reestruturados em grupos multidisciplinares, agrupados por regiões predefinidas: Maranhão/Piauí; Ceará; Rio Grande do Norte/Paraíba; Pernambuco/Alagoas e Sergipe/ Bahia/Minas Gerais. Cada grupo regional analisou os mapaspropostos pelos grupos temáticos, organizando as informações segundo critérios definidos.
Além dos grupos regionais, foi formado um grupo integrador para combinar todas as recomendações propostas pelos grupos temáticos em um conjunto único de propostas de políticas públicas para a conservação da biodiversidade da Caatinga. Finalmente, na reunião plenária, última fase da reunião de trabalho, foram apresentados os resultados dos grupos integradores regionais, discutidas as estratégias de conservação, as recomendações de políticas públicas e o mapa geral de prioridades.
Foram identificadas 82 áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade da Caatinga. Dessas, 27 foram classificadas como áreas de extrema importância biológica, 12 como áreas de muito alta importância, 18 como áreas de alta importância e 25 áreas insuficientemente conhecidas mas de provável importância. Além destas, um corredor conectando áreas prioritárias em Minas Gerais e Bahia também foi proposto. O alto número de áreas insuficientemente conhecidas enfatiza a urgente necessidade de um programa especial de fomento para o inventário biológico da Caatinga.
As áreas prioritárias variam bastante em tamanho, desde 235 km2 até 24.077 km2. No total, as áreas prioritárias cobriram cerca de 436.000 km2, ou seja, 59,4% do bioma Caatinga. A áreas de extrema importância biológica englobam 42% das áreas prioritárias, ou 24,7% de toda a Caatinga.
A ação principal recomendada para a maioria (54,8%) das áreas prioritárias é a proteção integral. Esta ação foi recomendada para 81% das áreas de extrema importância, 75% das áreas de muito alta importância e 72% das áreas de alta importância. Em contraste, e como seria esperado, a principal ação recomendada para a maioria (96%) das áreas insuficientemente conhecidas é a investigação científica. Para a maioria das áreas, a ação recomendada deve ser realizada urgentemente (43,9%), a curto prazo (30,5%) ou a médio prazo (25,6%).
As áreas de extrema importância estão localizadas no entorno de alguns brejos, áreas montanhosas úmidas que eram revestidas de florestas, tais como Planalto da Ibiapaba do Norte/Jaburuca, Serra de Baturité, Chapada do Araripe, Serra Negra e Caruaru; ao longo do rio São Francisco, tais como Bom Jesus da Lapa, Peruaçu/Jaíba, Ibotirama, Médio São Francisco e Xingó; e no centro do Estado da Bahia, tais como Itaetê/Abaíra, Morro do Chapéu, Senhor do Bonfim e Raso da Catarina. Dentre as áreas de extrema importância, duas são de considerável destaque: o Parque Nacional da Serra da Capivara e o Médio São Francisco.
Redes Sociais