A última casa das ararinhas-azuis antes de serem reintegradas à natureza será um Centro de Readaptação, Reprodução e Soltura construído na região de Curaçá, na Bahia. As 50 aves viveram por toda a vida em cativeiros na Alemanha e no Qatar e precisam não somente se aclimatar à Caatinga nordestina antes de ganharem o céu da região, como também devem aprender a se alimentar, se reproduzir e sobreviver a predação.
As aves chegam ao Brasil em breve, mas só devem ser soltas em 2021, como explica Camile Lugarini, analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). A médica veterinária é coordenadora do projeto de reintrodução do animal, extinto de seu habitat natura em 2000.
“O recinto é enorme e foi construído em cima da Caatinga, ou seja, com a Caatinga dentro. As aves vão precisar de um período de aclimatação, então a soltura deve ocorrer aos poucos”, ressalta Lugarini. “Primeiro elas vão aprender a viver no ambiente selvagem, aprender a ficar alerta com os predadores, que na região são aves de rapina, a se alimentar, enfim, um passo de cada vez.”
Aos poucos – Reintroduzir ao estado selvagem animais nascidos em cativeiro é um processo longo e difícil. Os animais, não importa de que espécie sejam, têm que ser preparados para ganhar liberdade progressivamente, por etapas. Por isso o recinto foi dividido em diversos tamanhos, como conta Ugo Vercillo, analista ambiental da Coordenação de Ações Integradas para Conservação de Espécies do ICMBio.
“São gaiolas menores, dentro de gaiolas maiores, dentro de gaiolas maiores ainda. As portas de cada seção vão ser abertas com o passar do tempo, ampliando a área para a ararinha. Isso até que ela chegue ao último estágio, que é a parte mais ampla do recinto. Quando ela estiver pronta, essa última porta será aberta para que ela possa voar e repovoar a Caatinga”, explica Vercillo.
A última porta do recinto ainda permanecerá aberta por um tempo, para que as ararinhas-azuis possam voltar caso não se sintam completamente seguras. “Isso pode acontecer nas primeiras semanas, mas a ideia é que elas possam se integrar à natureza e não voltar mais”, aponta Lugarini. “Também teremos alguns comedouros próximos ao recinto para que as aves possam comer nesse período de adaptação, quando estarão procurando o próprio alimento na região.”
Recuperação – O recinto não foi a única alteração feita em Curaçá. Para reintroduzir a ararinha-azul, foi necessário recuperar o habitat natural das aves. O corte indiscriminado de árvores e a criação de cabras mudaram a paisagem do vale do São Francisco na Bahia e contribuíram para o desaparecimento da ave, embora o maior culpado tenha sido mesmo o tráfico do animal para comércio ilegal.
“Antes da construção do centro foi criada a Área de Proteção Ambiental da Ararinha-Azul e a recuperação da Caatinga no local”, lembra Vercillo. “A espécie nunca foi muito abundante e sempre foi restrita à região com árvores caraibeiras da mata ciliar. Sem o bioma como ele deve ser, ela vai ter mais dificuldades de viver e se reproduzir. Por isso estamos fazendo toda uma conscientização com a população local e dando todo o apoio necessário para que a Caatinga se recupere ainda mais e seja preservada.”
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