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Mulheres se unem para combater efeitos das mudanças climáticas

Publicado: Quinta, 08 Maio 2008 21:00 Última modificação: Quinta, 08 Maio 2008 21:00

Suelene Gusmão
 
As exposições das participantes da oficina que debateu a questão de Gênero e Mudanças Climáticas dentro da III Conferência Nacional do Meio Ambiente, hoje (8), no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, tiveram como ponto concordante o fato de que em todo mundo as mulheres são as mais vulneráveis quanto aos impactos das mudanças climáticas, principalmente as oriundas dos países mais pobres. Também foi unânime a idéia de que as mulheres em todo o mundo ainda sofrem os efeitos da discriminação e que por sua natureza social elas são indispensáveis no processo de adaptação e mitigação dos efeitos decorrentes dessas mudanças.

Como forma de alterar este panorama, foi colocado pelas debatedoras que os governos precisam implementar políticas públicas onde a questão do gênero esteja colocada de forma transversal. Outro ponto levantado foi quanto ao fato de as mulheres ainda serem minoria na ocupação de cargos nos poderes Executivo e Legislativo e na participação em fóruns onde se debate internacionalmente a questão das mudanças climáticas.

A mesa da Oficina Gênero e Mudanças Climáticas teve a coordenação de Muriel Saragoussi, diretora de extrativismo da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural do MMA, e contou com participação da secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do MMA, Thelma krug, da coordenadora-geral da Mugede (Mulher, Gênero e Desenvolvimento) de Moçambique (África), Saquina Mucavele, de Elizabeth Peredo, coordenadora do Programa Gênero, Identidade e Trabalho da Fundación Solón (Bolívia), de Raimunda Gomes (Raimundinha), do Conselho Nacional dos Serigueiros e de Ninon Machado, do Instituto Ipanema, que foi a responsável pela relatoria dos trabalhos.

A secretária Thelma Krug lamentou o fato de a participação feminina, dentro do cenário internacional e do ponto de vista intelectual, ser ainda pequena. Segundo ela, entre os países em desenvolvimento, Brasil até se destaca com a participação de mulheres, mas "as sociedades em desenvolvimento ainda são patriarcais". Thelma Krug disse que as mulheres são particularmente afetadas pelas mudanças climáticas, mas que vem delas uma grande ajuda no processo de mitigação e de adaptação a estes efeitos.

A representante de Moçambique, Saquina Mucavele, informou que seu país é um dos mais vulneráveis às mudanças climáticas devido à sua localização geográfica e que este fato afeta a vida de todos, mas principalmente das mulheres. Segundo ela, há mais de 20 anos o povo tem sofrido com as catástrofes naturais que devastam Moçambique. "Quando acontece algum desastre proveniente de mudança no clima, as famílias se desestruturam e as mulheres são as que mais se ressentem do ocorrido". Saquina lembrou que em Moçambique, os homens ainda não aceitam a independência da mulher e que são poucas as que atualmente ocupam cargos no Executivo e Legislativo. "A situação da mulher é muito precária. Estamos tentando incluir os homens em nossas discussões para que possam mudar a mentalidade", disse.

Para quebradeira de coco do Maranhão Raimunda Gomes, o homem vem devastando as florestas por ganância. "Por dinheiro ele desmata e caça para vender para o exterior", disse. Raimunda lembrou que a destruição da natureza vem prejudicando a qualidade de vida, acabando com os recursos naturais e inviabilizando o comércio e a produção. "A questão climática, o capitalismo e a questão de gênero andam juntas e mexem com todo mundo", disse.

Raimunda disse que foi informada que os pobres serão os primeiros a morrer com os efeitos das mudanças climáticas. "Se isso for verdade, disse ela, então teremos de ser os primeiros a espernear contra a derrubada de nossas florestas".

A representante da Bolívia, Elizabeth Peredo lembrou que embora seu país seja responsável por apenas 3% das emissões, tem sofrido com as alterações do clima. "Os glaciais estão derretendo muito depressa e nossa água vem das montanhas", lamentou. De acordo com Peredo, isso afeta diretamente as mulheres, pois são elas quem buscam acesso à água. Peredo falou que para mudar essa situação, é preciso mudar os paradigmas e os modelos de desenvolvimento que favorecem as alterações climáticas. "Essas alterações são provocadas por uma crise civilizatória", disse. A boliviana informou que em seu país, estão sendo adotadas uma série de medidas para valorizar o papel da mulher e dos povos indígenas. "Estamos colocando a questão da mulher de maneira transversal nas políticas públicas e recuperando os conhecimentos e o saberes cotidianos das mulheres e dos índios para que possamos responder à adaptação e à mitigação das mudanças", informou Peredo.

A representante da ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Márcia Leporace, lembrou a importância da criação, a partir de 2003, da Secretaria da Mulher, assim com a dos Direitos Humanos e da Igualdade Racial, criadas como uma forma de enfrentamento da discriminação. "Nossa missão é a de articulação com outros ministérios para que haja um novo olhar, uma nova forma de implementar políticas públicas. É uma construção lenta, mas o Brasil não é voz solitária nesta luta. Existe um movimento internacional para combater todas as formas de discriminação", disse. 

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