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ONU lança esforço para popularizar tema da desertificação na América Latina

Publicado: Terça, 20 Março 2007 21:00 Última modificação: Terça, 20 Março 2007 21:00

Rafael Imolene

A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês), amparada por organizações não-governamentais, iniciou um trabalho de comunicação para massificar o tema da desertificação na América Latina. Depois da África, o continente é o que mais sofre com os efeitos do fenômeno, sempre associado à pobreza e ao subdesenvolvimento. Mais do que miséria, a desertificação provoca imigração em massa, degradação do solo, perda de biodiversidade e, conseqüentemente, redução das riquezas do país, desigualdade social e aquecimento global.

Para alcançar a opinião pública da América Latina, a ONG argentina Fundacion del Sur, integrante da Rede Internacional de ONGs sobre Desertificação (RIOD), reuniu esta semana em Buenos Aires jornalistas de países da região para participar de workshops. As apresentações e debates fizeram parte da 5ª Sessão do Cric (Comitê de Revisão da Implementação da Convenção), realizada desde o dia 12 de março em um centro de convenções montado nas dependências da Sociedade Rural Argentina (La Rural). Estiveram presentes profissionais do Chile, Honduras, Peru, Argentina e Brasil.

De acordo com o coordenador-técnico do Programa de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente, José Roberto Lima, a popularização do tema proporcionará beneficios não só à América Latina, mas a todo o mundo. "Dentro de 60 anos, estima-se que 50% da população mundial estará convivendo diretamente com a desertificação. Para que não existam os chamados 'exilados ambientais', que provocariam gravíssimos problemas populacionais e de recursos naturais nas áreas úmidas, a desertificação precisa ser combatida em todo o mundo imediatamente", diz. "E a melhor forma é conscientizar toda a opinião pública desde já", afirma o coordenador.

No Brasil o tema obteve destaque na mídia nos anos 1980, quando o sertão nordestino foi assolado por uma seca de cinco anos. Após investimentos que minimizaram seus efeitos, o assunto nunca mais retornou à mídia com a devida importância, mesmo que hoje vivam 31 milhões de brasileiros em regiões áridas, semi-áridas e subúmidas secas. Em outros países da América Latina, onde o problema é mais grave, jornalistas estrangeiros disseram que existe uma certa "acomodação" em relação ao tema.

Para Juan Luis Merega, da Fundacion del Sur, o assunto precisa ganhar importância. Entre outros motivos, porque a utilização sustentável do solo e recursos naturais dessas áreas poderá representar um impactante crescimento econômico nos países da região, gerando aquecimento do mercado consumidor e maior vigor comercial no bloco. No Peru, por exemplo, cerca de 80% da população vive em áreas desertificadas ou suscetíveis à desertificação. A inclusão social desses 22 milhões de habitantes terá como conseqüência um aumento significativo no mercado consumidor, avaliam estudos.

Segundo o diretor-executivo da organização peruana Proterra, Carlos Andaluz Westreicher, na América Latina poucos países executam medidas satisfatórias de combate ao problema, sendo que alguns sequer possuem projetos de mitigação. "O desmatamento desenfreado, a contaminação do solo e a agricultura predatória agravam ainda mais o processo de desertificação. É urgente articular programas nesse setor articulados com outras convenções da ONU, como a de Mudanças Climáticas e a da Biodiversidade", diz Westreicher.

Das convenções da ONU, a UNCCD é a que conta com o maior suporte de ONGs do mundo todo. A RIOD, Rede Internacional de ONGs sobre Desertificação, no Brasil tem apoio da Articulação no Semi-Árido, que sozinha reúne cerca de mil organizações e entidades. Essa malha de organizações tem dado condições para a UNCCD atuar em todos os continentes e, a partir de agora, trabalhar para mobilizar os meios de comunicação e sensibilizar a opinião pública.

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