Rafael Imolene
Especialistas latino-americanos de meio ambiente afirmaram em Buenos Aires, nesta terça-feira (20), que o combate à desertificação e seus efeitos é uma das condições para determinar o índice de crescimento econômico dos países da região nas próximas décadas. Em evento da 5ª Sessão do Cric (Comitê de Revisão da Implementação da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação), os participantes apresentaram estatísticas que revelam a degradação nas nações latino-americanas e como investimentos no combate ao fenômeno podem significar uma mudança na economia regional.
O Brasil vive uma situação considerada confortável se comparado a seus vizinhos. Aqui, 31 milhões de habitantes povoam as áreas suscetíveis à desertificação. No Peru, por exemplo, são mais de 20 milhões de pessoas nessas condições. Embora o número absoluto no Brasil seja maior, proporcionalmente a situação no Peru é muito mais grave. Enquanto no Brasil os 31 milhões representam 17% da população, no Peru cerca de 80% povoam as áreas consideradas secas.
Em maior ou menor grau, as preocupações são as mesmas. "Se as medidas necessárias para combater a pobreza nessas áreas não forem adotadas rapidamente, corre-se o risco de haver uma migração em massa", afirma o coordenador-técnico do Programa de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente, José Roberto Lima, que acompanha os trabalhos em Buenos Aires desde o dia 12. "Isso provocaria impactos que nem o Brasil, tampouco outros países da região, tem condições de enfrentar. Haveria um desequilíbrio ambiental como nunca aconteceu antes", diz. Para efeito de comparação, os 31 milhões de brasileiros que habitam áreas secas representam mais que a soma das populações dos estados de Rio de Janeiro, Santa Catarina, Para e Mato Grosso. Ou mais que toda a população peruana, de 28 milhões.
Manter as populações nos lugares de origem é uma das premissas dos programas de desertificação. Nesse ponto, o Brasil já está adiantado, pelo fato de os programas sociais do governo brasileiro coincidirem com o que propõe a convenção. O Bolsa Família e o Seguro Safra são dois exemplos de programas que contemplam as populações atingidas pela seca. Para o engenheiro agrônomo José Luis Panigatti, do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina, combater a degradação do solo agora é muito mais vantajoso do que sofrer suas conseqüências no futuro. "Os resultados são obtidos a longo prazo. Não devemos esperar mais para iniciar investimentos nessa área, pois os custos para reparar a degradação depois serão muito maiores. E as conseqüências, imprevisíveis", diz.
Cerca de três quartos da Argentina são assolados por regiões secas, onde vivem 30% da população. Segundo um estudo apresentado por Panigatti, uma área de La Rioja, no noroeste argentino, produzia 5 kg de carne por hectare há poucos anos. Depois da aplicação de tecnologias de combate à degradação do solo, a produtividade triplicou, passando para 15 kg por hectare. "É uma amostra do potencial de crescimento econômico nessas áreas", afirmou. No mundo, 22% dos alimentos sao produzidos em regiões secas. O mesmo percentual poderia ser alcançado pelo Nordeste brasileiro, de acordo com avaliação do MMA e de ONGs presentes ao evento em Buenos Aires. Assim, não só a migração seria contida, como também haveria maior crescimento econômico do Nordeste e melhor distribuição de renda no país
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