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MMA apresenta estudos sobre mudanças climáticas e efeitos sobre a biodiversidade

Os resultados foram anunciados nesta terça-feira (27) em entrevista coletiva da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do secretário do Biodiversidade e Florestas do MMA, João Paulo Capobianco, e dos pesquisadores responsáveis pelos estudos.
Publicado: Segunda, 26 Fevereiro 2007 21:00 Última modificação: Segunda, 26 Fevereiro 2007 21:00

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) apresentou nesta terça-feira (27/02) os resultados de oito projetos preliminares de pesquisa sobre Mudanças Climáticas e seus Efeitos sobre a Biodiversidade Brasileira. No conjunto, os estudos analisaram o perfil evolutivo do clima no País e desenharam possíveis cenários do clima nos próximos 100 anos (de 2010 a 2100). Os pesquisadores avaliaram ainda os efeitos da elevação do nível do mar na costa brasileira e identificaram indicadores para aferir com maior sensibilidade as mudanças climáticas. Os resultados foram anunciados em entrevista coletiva da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do secretário do Biodiversidade e Florestas do MMA, João Paulo Capobianco, e dos pesquisadores responsáveis pelos estudos. Desenvolvidas de 2004 a 2006, as pesquisas foram selecionadas pelo MMA por meio de cartas-consulta, em atendimento à determinação da Conabio.

A série de estudos, encomendada em 2004, muito antes da divulgação do relatório do International Panel on Climate Change (IPCC), neste mês, em Paris, faz parte da estratégia do Ministério de se antecipar aos problemas. Com base nelas, o governo poderá dar continuidade à estruturação de políticas públicas adequadas (além das que estão em curso, como a utilização de combustíveis renováveis) para enfrentar o problema do aquecimento global e seus múltiplos efeitos sobre a biodiversidade, a saúde, a agricultura e a economia. "As pesquisas são resultado de visão de implantação de políticas estruturantes que procuramos desenvolver desde 2003", disse a ministra.

Planejamento - Segundo Marina Silva, o conjunto das pesquisas sobre Mudanças Climáticas e seus Efeitos sobre a Biodiversidade Brasileira integra, até o presente momento, um elenco de outras providências do MMA para preparar o governo a lidar com o fenômeno das mudanças climáticas a partir de uma cultura contínua e permanente de prospecção do conhecimento qualificado, ancorado na excelência do trabalho da comunidade científica. "Combinadas à elaboração dos Mapas de Cobertura Vegetal Nativa do Brasil e dos Mapas de Áreas Prioritárias para Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade, que já realizamos, temos condições de começar a analisar o cenário, fazer projeções e balizar as futuras intervenções do poder público", afirmou. De acordo com a ministra, porém, nada adiantará o Brasil aprofundar as ações que já desenvolve buscando mitigar os efeitos da mudança do clima se os países desenvolvidos, responsáveis por 80% das emissões de CO2, não fizerem o mesmo. "O barco é de gelo. Ou seja, a questão precisa da contribuição de todos os países", disse Marina Silva.

Financiamento - As oito pesquisas sobre Mudanças Climáticas e seus Efeitos sobre a Biodiversidade Brasileira tiveram como principal financiador o Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (Probio/MMA), e foram elaboradas por mais de uma dezena de instituições de pesquisa brasileiras de excelência. Os outros financiadores foram o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/Ministério da Ciência e Tecnologia); a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp); o Fundo para o Meio Ambiente Global (GEF); o Banco Mundial (Bird)  por meio do Projeto Using Regional Climate Change Scenarios for Studies on Vulnerability and Adaptation in Brazil and South America, apoiado pelo Global Opportunity Fund (GOF), do Reino Unido - e o Instituto Interamericano de Mudanças Globais.

Precaução - As conclusões devem ser vistas como indicadores, não como fatos consumados. Por vários motivos. O primeiro deles é que as pesquisas são os primeiros de um processo que o MMA pretende tornar contínuo e permanente. Tanto mais segura será uma análise quanto mais estudos forem feitos ao longo do tempo. Em segundo lugar, as metodologias utilizadas nas pesquisas (nas atuais e nas do futuro) apresentam alguns resultados divergentes - logo, não permitem 100% de certeza. Outras variáveis devem ser levadas em conta, como a possibilidade de os países adotarem políticas ambientais mais saudáveis que hoje; é necessário considerar ainda a ocorrência radical de fenômenos naturais (sem ação do homem) capazes de anular as previsões atuais.


Brasil procura reduzir emissões de CO2

A ministra Marina Silva lembrou na entrevista que o governo brasileiro, antecipando-se aos problemas, vem adotando uma série de providências para enfrentar o problema do aquecimento e de outras mudanças climáticas. "Estamos fazendo a nossa parte". Segundo ela, a progressiva substituição de combustíveis fósseis por renováveis, como o etanol, alcança neste momento 45% da matriz energética brasileira, o que reduz sensivelmente as emissões causadoras do efeito estufa. Por exemplo, 80% da principal fonte energética do País (a energia elétrica) são geradas a partir de hidrelétricas.

Além do etanol e da energia elétrica (tradicional, porém "limpa"), o Brasil se dedica com atenção especial à produção de energia a partir de novas fontes alternativas renováveis.

O Programa Nacional de Biodiesel também tem contribuído para mitigar o aquecimento, inclusive porque é exportado, juntamente com o etanol, aos países desenvolvidos (maiores poluidores) como substitutos de combustíveis fósseis. Como benefício extra, o Programa de Biodiesel possibilita ao Brasil aproveitar o bagaço da cana para aumentar sua participação em projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Muitas usinas brasileiras de açúcar e de álcool já produzem eletricidade com baixas emissões a partir do bagaço da cana.

Dos 205 projetos brasileiros de MDL em validação e aprovação pela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, 67 referem-se a projetos de co-geração a partir da biomassa. Só com os projetos de MDL, o Brasil evitou a emissão de cerca de 25 milhões de toneladas de Dióxido de Carbono (CO2) nos últimos sete anos. O índice brasileiro de redução de emissões de CO2 é maior do que a média dos países. O Brasil ocupa a terceira posição mundial no desenvolvimento de projetos daquele tipo.

A ministra lembrou que contribuem também para a redução de emissões o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), que estabelece a contratação de 3.300 MW de energia produzidos por três fontes renováveis (eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas). O potencial de redução anual das emissões associado ao Programa gira em torno de 2,9 milhões de toneladas de CO2. "Concorreu, ainda, para a queda nas emissões, a redução em mais de 50% do desmatamento, verificada na Amazônia, nos dois últimos anos, período em que se evitou a emissão de aproximadamente 430 milhões de toneladas de gás carbônico. Naquele sentido, foi importante também a criação de novas unidades de conservação federal, que superam 50 milhões de hectares protegidos no País", afirmou Marina Silva.

Além dos esforços que desenvolve, o governo brasileiro tem buscado propagar soluções nas negociações internacionais da Convenção sobre Mudanças Climáticas. Na última Conferência das Partes, em 2006, em Nairobi, o Brasil, a partir de sua experiência, apresentou proposta de incentivo aos países em desenvolvimento para auxiliá-los a reduzir ainda mais suas emissões de gases de efeito estufa por meio da redução do desmatamento.

IPCC alerta para o perigo aquecimento

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (International Panel on Climate Change (IPCC) divulgou, no início de fevereiro, o Quarto Relatório de Avaliação das Mudanças no Clima do Planeta, chamado IPCC-AR4.

O documento demonstra de forma conclusiva os perigos do aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, resultantes da baixa capacidade dos países industrializados de reduzir suas emissões, bem como da resistência de algumas nações em desenvolvimento em negociar a estabilização e a diminuição de suas emissões.

O relatório detectou um aumento de temperatura global entre 2 ºC a 4,5 ºC a mais do que os níveis registrados antes da Era Pré-Industrial. A estimativa mais certeira fala em aumento médio de 3 ºC, considerando que os níveis de dióxido de carbono (CO2) se estabilizem em 45% acima da taxa atual.

Em relação às causas da mudança de clima, o relatório afirma que é "muito provável" (até 90% de chance) que as atividades humanas, lideradas pela queima de combustível fóssil, estejam fazendo a atmosfera esquentar desde meados do século 20.

Os estudos

1) Mudanças Climáticas e seus Efeitos sobre a Biodiversidade Brasileira

Instituição Executora: Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC)/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Coordenador: Prof. José Marengo.

A primeira parte desse estudo analisa o comportamento da água e a temperatura do ar ao longo do século passado. A segunda parte oferece ao leitor projeções do clima no Brasil em três faixas temporais de trinta anos cada - de 2010 a 2040, deste ano a 2070 e daí a 2100.

Os prognósticos foram obtidos a partir da análise de ciclos hídricos e da temperatura em regiões econômica, ecológica e socialmente importantes: Amazônia, Pantanal, Nordeste e Bacia do Paraná-Prata (esta representativa do Sul-sudeste). Amazônia e Pantanal apresentam alto grau de vulnerabilidade à mudança de clima. O semi-árido do Nordeste é a região onde a população é a mais sensível à mudança de clima. Já a bacia do Paraná-Prata foi escolhida por sua posição de destaque na produção agropecuária e na geração de energia hidrelétrica para grandes cidades do sudeste da América do Sul.

Metodologias - Na elaboração do estudo, foram utilizados cincos metodologias, além de considerados quatro itens: chuva, temperatura, vazão de rios e extremos climáticos, como secas e chuvas intensas. Na análise dos dados, o pesquisador utilizou dois cenários extremos: o totalmente pessimista (A2) e o absolutamente otimista (B2). No primeiro, considera-se que nada será feito para impedir o avanço do aquecimento; no segundo, o contrário: tudo será feito para melhorar o quadro.

Temperatura e chuvas no século XX

No Brasil, a temperatura média aumentou aproximadamente 0,75 ºC no século XX, considerando a temperatura média anual de 24,9 ºC, aferida entre 1961 e 1990. O ano mais quente no País foi o de 1998 (aumento de até 0,95 ºC em relação a 24,9 ºC). O aumento da chuva no Sul do Brasil foi consistente, mais acentuado no inverno e, depois, no verão. No Nordeste e na Amazônia, não houve aumento ou redução de chuvas.

Vazão dos rios no século XX

As pesquisas indicam aumento da vazão entre 2 e 30% na bacia do Rio Paraná. Na Amazônia, Pantanal e Nordeste, não foi verificada tendência de períodos maiores de secas ou de chuva. Não houve alterações importantes nas vazões dos rios da Amazônia e da bacia do rio São Francisco.

Algumas vazões (Amazônia, Sul do Brasil, Norte do Nordeste) têm alta correlação com anomalias de temperatura de superfície do mar nos oceanos Pacífico e Atlântico Tropical. Isto sugere ser possível uma associação entre vazões extremas e o El Niño ou o aquecimento no Atlântico Norte Tropical, como foi o caso de 1998, quando houve reduções nas vazões em Manaus e Óbidos e nos níveis baixos do Rio Solimões, durante a seca de 2005.

Eventos Extremos

No Sudeste da América do Sul, têm-se observado aumento na intensidade de episódios de dias com chuva intensa no período de 1961 a 1990. Ou seja, as chuvas estão se tornando mais violentas. Alguns estudos mostram relação de extremos de chuva no Sudeste e Sul do Brasil à freqüência/intensidade, com padrões de circulação como a Zona e Convergência do Atlântico Sul ou o Jato de Baixos Níveis da América do Sul.

O estudo registrou tendência de maior ocorrência de noites quentes no Sudeste do Brasil, que vão de 5% na década de 1950 até quase 35% no início do século XXI. Por outro lado, a tendência de dias frios apresentou freqüência de 25-30% na década de 1970, chegando até 5-10% em 2001-2002.

Os dados mostram tendência de aumento de episódios de chuva intensa no Centro-oeste e Sudeste do Brasil. No Brasil, as tendências positivas de extremos de chuva aparecem mais intensamente nos estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Verificou-se tendência de aumento no número de dias com chuva intensa e muito intensa. O destaque dos últimos anos, na categoria Eventos Extremos, foi o furacão Catarina, em março de 2004, possivelmente o primeiro furacão do Atlântico Sul. Não houve nada comparável nos últimos 50 anos e não há registros na história brasileira de fenômeno tão intenso na costa sul do Brasil.

Elevação do nível do mar

Na costa brasileira, observou-se tendência de aumento do nível do mar da ordem de 40 centímetros/século ou quatro milímetros/ano. Cidades litorâneas e 25% da população brasileira, cerca de 42 milhões de pessoas que vivem na zona costeira, podem ser afetadas pela elevação do oceano Atlântico. A elevação do nível do mar pode chegar a meio metro ao longo do século XXI.

A cidade do Rio de Janeiro é uma das mais vulneráveis. Estudos d Inpe, a partir de imagens do satélite Landsat, simularam a enchente que ocorreria na Ilha de Marajó, partindo aumento do nível do mar. Com dois metros de elevação, 28% de seu território pode desaparecer. Caso o aumento chegue a 6 metros, 36% da ilha pode ser inundada.

Áreas mais sensíveis à erosão

No Brasil, as áreas mais suscetíveis à erosão estão na região Nordeste, pela falta de rios capazes de abastecer o mar com sedimentos. Em Pernambuco, um dos estados mais afetados, cerca de seis em cada dez praias dos 187 km de costa cedem terreno para o mar. Uma elevação de 50 cm no nível do Atlântico poderia consumir 100 m de praia no Norte e no Nordeste. Em Recife, por exemplo, a linha costeira retrocedeu 80 m de 1915 a 1950 e mais de 25 m de 1985 e 1995.

Temperatura subiria até 4ºC no Brasil e 8ºC na Amazônia

No Brasil, o aumento da temperatura média no ar pode chegar até 4ºC acima da média climatológica em 2100, em relação à temperatura média aferida de 1961 a 1990. Na Amazônia, o aquecimento pode chegar, no cenário mais pessimista, a 8 ºC.

Já a temperatura média do ar no País, em 2100, pode aumentar a 28,9ºC no cenário de altas emissões (pessimista) e até 26,3 ºC no cenário de baixas emissões (otimista). Em relação à temperatura média aferida de 1961 a 1990 (de 25ºC), aquela elevação representaria o aquecimento de 3,8ºC para o cenário de altas emissões e 1,3 ºC para o cenário de baixas emissões.

Redução de chuva na Amazônia e no Nordeste

A probabilidade de maior redução de chuva pode afetar a Amazônia e o Nordeste. No Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste, permaneceriam estáveis nos níveis atuais, embora o volume da precipitação possa ser mais intenso.

Já na região da bacia do Prata, as projeções indicam possível aumento na quantidade de dias de chuva e no aumento da vazão dos rios até a segunda metade do Século XXI.

Variações nos extremos do clima

Existem incertezas nas tendências de variabilidade de extremos de clima no Brasil (exceto na região Sul), por causa da falta de informação confiável de longo prazo ou do acesso restrito a este tipo de informação para grandes regiões, como a Amazônia. As projeções de extremos para a segunda metade do século XXI mostram em geral aumentos nos extremos de temperatura, como noites mais quentes, ondas de calor, e nos indicadores de eventos extremos de chuva.


Projeções de aumento de temperatura por região

Amazônia

+5,3ºC (pessimista)

+3,0ºC (otimista)

Nordeste

+4,0ºC (pessimista)

+2,2ºC (otimista)

Pantanal

+4,6ºC (pessimista)

+3,4ºC (otimista)

Sul-Bacia do Prata

+3,5ºC (pessimista)

+2,3ºC (otimista)


O fenômeno da "Aridização"

Simulações do balanço hídrico nas regiões do Brasil sugerem, no cenário de maiores emissões de gases de efeito estufa, tendência de extensão da deficiência hídrica (estiagem) por praticamente todo o ano no Nordeste, apontando para maior "aridização" da região semi-árida até final do Século XXI.

Para a Amazônia, o período de excesso de água atual, durante a estação chuvosa, pode se reduzir significativamente em climas futuros mais quentes, associados a um aumento de temperatura e de evaporação e a uma diminuição das chuvas.

Num cenário pessimista, o estudo sugere que o Nordeste se transformaria de semiárido em árido até finais do século XXI. O balanço hídrico realizado com as médias dos valores dos modelos não chega a este extremo, mas sugere que a estação chuvosa seria mais fraca e os déficits de umidade no solo seriam maiores no futuro. Na Amazônia, o estudo sugere que a deficiência de água na estação seca seria pouco maior que no clima do presente devido a uma redução das chuvas durante a estação chuvosa.

Conseqüências gerais

A mudança climática poderá alterar a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas. Pode haver a perda de biodiversidade e de recursos naturais, ainda mais quando se acrescenta às mudanças climáticas os efeitos das alterações da cobertura de vegetação, especialmente desmatamentos. Outros efeitos: alterações das rotas migratórias e mudanças nos padrões reprodutivos das espécies. Teme-se que a capacidade de absorção de carbono das florestas tropicais, sensíveis à mudança climáticas, diminua com o tempo, e que estas deixem de funcionar como eliminadoras de carbono e passem a ser fonte de emissão deste gás. No pior cenário, a Amazônia pode virar Cerrado até final do século XXI devido ao aumento na concentração de gases de efeito estufa.

Os recifes de corais são especialmente vulneráveis às mudanças na temperatura da água; calcula-se que um aumento entre 3ºC e 4ºC causaria sua morte.

Doenças

A mudança climática pode causar aumento do risco de incidência de doenças como malária, dengue, febre amarela e encefalite. Tais doenças teriam condições mais favoráveis para se expandir num planeta mais quente, em parte porque os insetos que as carregam (caso da malária e da dengue) teriam mais facilidade para se reproduzir. Aumentaria ainda o risco de contrair, por meio da água, salmonelose, cólera e outras doenças.

Doenças respiratórias também poderiam ser mais comuns, como conseqüência de um possível aumento na incidência de incêndios na floresta e na vegetação da Amazônia e Cerrado, devido à redução de chuva.

Além disso, teme-se que pessoas morram como conseqüência das ondas de calor, especialmente crianças e idosos. A queda da produtividade agrária também pode agravar a desnutrição, que hoje já afeta 800 milhões de pessoas globalmente.

Grandes cidades sentirão mais o aquecimento

Em todas as grandes cidades, o aquecimento também deve exacerbar o problema das ilhas de calor, no qual prédios e asfalto retêm muito mais radiação térmica que áreas não-urbanas.


Acesso à água

As mudanças climáticas ameaçam intensificar as dificuldades de acesso à água. A combinação das alterações do clima, escassez de chuva associada a altas temperaturas e altas taxas de evaporação, pode levar a uma crise nos recursos hídricos. Os mais vulneráveis seriam os agricultores pobres de subsistência na área do semi-árido do Nordeste (polígono da seca), região semi-árida de 940 mil km2 que abrange nove estados do Nordeste e enfrenta problema crônico de falta de água.

Efeito estufa

O efeito estufa é um fenômeno natural: parte do calor da energia solar que atinge o planeta é aqui retida por gases que se acumulam na atmosfera - parte desse calor é liberado para o espaço. Mas a concentração na atmosfera de alguns desses gases, especialmente gás carbônico, aumentou muito no século XX, em virtude do intenso e crescente uso de combustíveis derivados do petróleo, gás e carvão; do desmatamento; do aumento de resíduos orgânicos nas cidades ou nas atividades agropecuárias; no uso de substâncias e gases em processos industriais e equipamentos.

Todos esses itens conduzem a uma intensificação do efeito estufa; são as causas principais do aquecimento observadas nos últimos 100 anos. Esses gases (gás carbônico, metano, dióxido de enxofre etc.) permanecem na atmosfera por décadas, o que significa que, se as emissões fossem zeradas, o planeta continuaria aquecendo e o clima continuaria sofrendo transformações por muito tempo, ainda que numa taxa menor.

Quioto - Para enfrentar o problema de aquecimento global e lidar com esses problemas, mais de 150 países assinaram a Convenção das Nações sobre Mudanças Climáticas em 1992, e o Protocolo de Quioto em dezembro de 1997. O Protocolo só entrou em vigor em fevereiro de 2005, ainda que não tenha sido ratificado pelos Estados Unidos e pela Austrália.

No Brasil, dois grandes fatores contribuem com as causas: o desmatamento da Amazônia e da Mata Atlântica, o aumento das queimadas, o uso de combustíveis especialmente derivados do petróleo ou carvão mineral. Os acordos internacionais deixam claro que os países devem assumir compromissos que tentem promover o desenvolvimento sustentável, reduzindo e evitando o desmatamento; recuperando áreas degradadas; o uso de forma mais eficiente da energia disponível e ampliando o uso de energia renovável, como solar e eólica.

2) Diagnóstico sobre os efeitos da elevação do nível do mar decorrente do aquecimento global da atmosfera nos ecossistemas costeiros brasileiros - sub-região do litoral das regiões Sudeste e Sul - estudo de caso da baía e estuário de Santos e São Vicente (SP)

Instituições Executoras: Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica - FCTH e Universidade de São Paulo USP

Coordenadores: Prof. Associado Paolo Alfredini e Dra. Emilia Arasaki

Este estudo foi desenvolvido a partir de ensaios em uma grande maquete da Baía e Estuário de Santos e São Vicente (SP), em escala horizontal 1:1.200 e vertical 1:200. Objetivo foi elaborar um banco de dados sobre a variação do nível do mar, avaliar a velocidade e amplitude da invasão do mar, além da previsão dos impactos sobre as áreas urbanas e manguezais da região.

A área estudada abriga o maior porto da América Latina e a maior cidade litorânea do estado de São Paulo. Não se conhece estudo semelhante empregando maquetes daquela dimensão para a questão da elevação do nível do mar em área costeira do Brasil.

A importância do estudo está na possibilidade de simular diversos cenários, reproduzindo diferentes situações de maré e ondas. Em termos mundiais, trata-se de um trabalho pioneiro. Construída no Laboratório de Hidráulica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, a maquete tem capacidade de simular marés altas e baixas, bem como ondas.

Foram realizados ensaios em dois cenários: o primeiro, na condição atual; o segundo, com elevação do nível médio do mar de 1,5 metro, situação apontada como mais crítica para o ano de 2100.

Um mapeamento temático foi elaborado, utilizando o mapa digital do terreno (composto pela topografia, linha de costa e demais contornos que caracterizam a região) e de fotos aéreas e imagens de satélite.

Resultados - Os resultados do estudo mostram que, numa elevação extrema do nível do mar, áreas atualmente em processo erosivo, como a Praia de Milionários (São Vicente), Ponta da Praia (Santos) e Praia de Pitangueiras (Guarujá), terão o processo de erosão intensificado.

Outra conseqüência: as faixas de areia das praias santistas sofrerão redução, afetando a distribuição da fauna bentônica (que vive sob a areia) onde não houver condições de deslocamento de espécies. É esperada também a diminuição das espécies de peixes no estuário devido à maior presença de água salgada. Em relação aos mangues, nota-se que haverá inundação de extensas áreas, sem possibilidade de migração desses bosques.

3) Estudo de caso da Ilha dos Marinheiros, estuário da Laguna dos Patos, RS: Diagnóstico ambiental, modelo de elevação digital e avaliação de vulnerabilidade frente a cenários de elevação do nível do mar.

Instituição Executora: Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg)

Coordenador: Prof. Dr. Carlos Roney Armanini Tagliani

A Ilha dos Marinheiros pertence ao município de Rio Grande, localizado na porção mediana da Planície Costeira do RS. Ocupa grande enseada na porção terminal

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