A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o secretário de Fomento do Ministério da Cultura, Sérgio Xavier, defenderam hoje que um modelo de desenvolvimento mais sustentável só será alcançado com profundas alterações culturais que levem a mudanças no modelo econômico. Conforme Xavier, a economia atual tem ênfase reducionista e é muito focada nos indicadores financeiros.
Para ele, uma nova economia deveria pensar no longo prazo e nas demandas humanas em harmonia com a natureza. "Um desenvolvimento verdadeiramente sustentável depende de novas visões, novas práticas, novas percepções e comportamentos, de uma nova cultura com referenciais ecologicamente viáveis", disse
Marina Silva lembrou que a humanidade está vivendo um momento desafiador, com o acirramento de crises climáticas de grande amplitude. "Devemos estar atentos a tudo o que está acontecendo no Planeta, pois muitos desses incidentes podem estar sendo potencializados pelas nossas ações não respeitosas a natureza", disse.
Para a ministra, é preciso fugir do senso comum que faz ligações diretas de fenômenos como a seca na Amazônia, por exemplo, ao desamatamento da floresta tropical. "A ciência está aí para encontrar respostas", disse. Mas, ainda segundo ela, também é preciso evitar a idéia de que tais problemas não tem qualquer interferência humana. "Isso nos deixaria a vontade para continuar desmatando.
Se não podemos controlar os grandes fenômenos, que pelo menos sejamos capazes de controlar a nossa interferência", salientou.
Marina Silva e Sérgio Xavier participaram hoje do lançamento nacional da biografia do ambientalista José Luzenberger, em Brasília (DF). Sinfonia Inacabada, obra da jornalista Lilian Dreyer, descreve a trajetória do agrônomo gaúcho que, aos 44 anos, abandonou seu trabalho na indústria química e iniciou uma jornada que o tornou um dos grandes nomes do ambientalismo internacional.
Também participaram do evento o secretário-executivo do MMA Claudio Langone, a professora da Universidade de Brasília Maria do Carmo Lima Bezerra e o jornalista Washington Novaes. O evento no Distrito Federal foi o primeiro de um ciclo de painéis que chegará a várias capitais brasileiras.
De acordo com Lilian Dreyer, que acompanhou o trabalho de Lutzenberger por mais de uma década, o ecologista tinha a capacidade de estabelecer "conexões extraordinárias", de perceber a evolução da natureza e da sociedade. "A contribuição dele continua sendo essa. Suas idéias inovadoras auxiliam no necessário debate sobre novos modelos de progresso para a humanidade", disse.
"Precisamos de uma nova economia para globalizar a sustentabilidade e os melhores valores humanos, movida com propósitos solidários e ações transformadoras, valores defendidos por Lutzenberger", completou o secretário do Ministério da Cultura.
Para a ministra do Meio Ambiente, as "grandes figuras" do ambientalismo e do humanismo são capazes de construir uma história onde as pessoas também podem deixar suas marcas. "Pessoas como Lutzenberger, Chico Mendes, Francisco de Assis, Gandhi e Mandela, foram capazes de nos ensinar muita coisa por não serem iguais a todo mundo", disse. "A sinfonia não acabará enquanto existirem pessoas dispostas a se entregarem a boas causas", completou.
Histórico - Lutz, como era chamado entre ambientalistas, nasceu em 17 de dezembro de 1926, em Porto Alegre (RS). Formado em Agronomia, trabalhou por anos para empresas voltadas à produção de adubos e químicos, no Brasil e no Exterior. Em 1971, abandonou uma carreira de treze anos como executivo da indústria alemã Basf para denunciar o uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras do Rio Grande do Sul, voltando-se em definitivo ao ambientalismo. Ele não concordava com o avanço da química sobre a agricultura.
Um exemplo de seu trabalho foi a campanha contra a fabricante norueguesa de celulose Borregaard, em 1974, que tornava insuportável o ar na região metropolitana de Porto Alegre. A fábrica chegou a ser fechada para melhorias nos equipamentos. Após a venda da planta a brasileiros, Lutz participou de um projeto para torná-la um exemplo de que é possível conciliar desenvolvimento e respeito ao meio ambiente.
Em março de 1990, Lutzenberger foi nomeado secretário-especial do Meio Ambiente da Presidência da República, no mandato de Fernando Collor de Mello. Até 1992, quando deixou o cargo, o ambientalista contribuiu para a demarcação de áreas indígenas, como a dos Yanomamis, na decisão do Brasil de abandonar a fabricação da bomba atômica, na assinatura do Tratado da Antártida e na Convenção das Baleias. Participou, ainda, dos encontros preparatórios à Rio92.
Ao longo de sua vida, o ecologista participou de mais de oitenta encontros nacionais e mais de quarenta internacionais. Recebeu mais de quarenta prêmios, entre eles o Right Livelihood Award (Nobel Alternativo), em 1988, 25 distinções e mais de dez homenagens especiais. Lutzenberger faleceu em 14 de maio de 2002, aos 75 anos.
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