Aldem Bourscheit
Com apoio dos ministérios do Meio Ambiente e da Cultura, a biografia do ecologista e ex-secretário de Meio Ambiente da Presidência da República, José Lutzenberger, terá lançamento nacional nesta sexta-feira (21), em Brasília (DF). Sinfonia Inacabada, obra da jornalista Lilian Dreyer, descreve a trajetória do agrônomo gaúcho que, aos 44 anos, abandonou seu trabalho na indústria química e iniciou uma jornada que o tornou um dos grandes nomes do ambientalismo internacional.
O lançamento será no auditório do Ministério da Cultura (Esplanada dos Ministérios, Bloco B), a partir das 9h. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o secretário de Fomento e Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, Sérgio Xavier, abrem o evento. Também participarão da atividade o secretário-executivo do MMA Claudio Langone, a professora da Universidade de Brasília Maria do Carmo Lima Bezerra e o jornalista Washington Novaes. O evento no Distrito Federal é o primeiro de um ciclo de painéis que chegará a várias capitais brasileiras.
A divulgação da biografia de Lutzenberger busca levar ao grande público uma visão de mundo inovadora e também alimentar um processo cultural mais amplo, focando a questão do desenvolvimento nas diversas regiões brasileiras dentro de uma visão ecológica.
Histórico - Lutz, como era chamado entre ambientalistas, nasceu em 17 de dezembro de 1926, em Porto Alegre (RS). Formado em Agronomia, trabalhou por anos para empresas voltadas à produção de adubos e químicos, no Brasil e no Exterior. Em 1971, abandonou uma carreira de treze anos como executivo da indústria alemã Basf para denunciar o uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras do Rio Grande do Sul, voltando-se em definitivo ao ambientalismo.
Foi um dos fundadores da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), uma das entidades ambientalistas mais antigas do País. Em 1987, criou a Fundação Gaia, que até hoje promove o desenvolvimento sustentável, a agricultura regenerativa, a educação ambiental e a reciclagem do lixo.
Um dos exemplos de seu trabalho foi a campanha contra a fabricante norueguesa de celulose Borregaard, em 1974, que tornava insuportável o ar na região metropolitana de Porto Alegre. A fábrica chegou a ser fechada para melhorias nos equipamentos. Após a venda da planta a brasileiros, Lutz participou de um projeto para torná-la um exemplo de que é possível conciliar desenvolvimento e respeito ao meio ambiente.
Outros projetos liderados pelo agrônomo foram: levantamento das áreas de parques da Guarita e de Itapeva; projeto, execução e manutenção do Parque da Guarita; projeto e implantação do Parque da Doca Turística, em Porto Alegre; coordenação dos Estudos Ecológicos do Plano Diretor do Parque Estadual do Delta do Jacuí; entre outros.
Em março de 1990, Lutzenberger foi nomeado secretário-especial do Meio Ambiente da Presidência da República, no mandato de Fernando Collor de Mello. Até 1992, quando deixou o cargo, o ambientalista contribuiu para a demarcação de áreas indígenas, como a dos Yanomamis, na decisão do Brasil de abandonar a fabricação da bomba atômica, na assinatura do Tratado da Antártida e na Convenção das Baleias. Participou, ainda, dos encontros preparatórios à Rio92.
O trabalho de Lutzenberger foi focado na agricultura regenerativa e no uso equilibrado dos recursos não-renováveis. Nunca deixou de alertar sobre os perigos que o atual modelo de desenvolvimento representa para a humanidade em nível ecológico e social.
Ao longo de sua vida, o ecologista participou de mais de oitenta encontros nacionais e mais de quarenta internacionais. Recebeu mais de quarenta prêmios, entre eles o Right Livelihood Award (Nobel Alternativo), em 1988, 25 distinções e mais de dez homenagens especiais. Lutzenberger faleceu em 14 de maio de 2002, aos 75 anos.
Serviço
O que - lançamento nacional do livro Sinfonia Inacabada - A Vida de José Lutzenberger, com 518 páginas
Quando - 21 de outubro
Horário - 9h
Onde - Auditório do Ministério da Cultura, em Brasília (Esplanada dos Ministérios, Bloco B)
Trechos de Sinfonia Inacabada
Lutzenberger endossava a hipótese Gaia, definida pelo pesquisador britânico Lovelock e pela norte-americana Margulis, a qual sustenta que a Terra não é um mero conjunto de biomas, mas um sistema integrado, com "intencionalidade" e espantosa capacidade de auto-regulação, a que eles deram o nome da deusa grega da terra, Gaia. Lutzenberger, que era amigo de Lovelock, em 1987 também publicou um livro sobre o tema, Gaia - O Planeta Vivo; nele Lutz retoma os dados estritamente científicos que conduziram à hipótese Gaia, e ao mesmo tempo defende para a civilização o caminho das chamadas tecnologias brandas, um caminho suave de adequação à Gaia por parte do Ser Humano - talvez o Ser surgido para que este complexo sistema vivo possa olhar-se consciente mente a si mesmo, apreciar-se a si mesmo e, desse momento em diante, evoluir com consciência.
Recorrendo à experiência pregressa que lhe dizia ser possível transformar problemas em soluções, Lutzenberger passou a centrar seus esforços em uma idéia ousada, mas factível: a partir do zoneamento do território nacional, criar projetos de desenvolvimento das economias regionais dentro de uma visão ecológica, a serem oferecidos no exterior. A proposta, em síntese, era converter a dívida externa brasileira em projetos ambientais - mas concebidos dentro de visão e acompanhamento ecológico abrangente. Não estaria contida aí nenhuma ameaça à soberania brasileira, pelo contrário, criar-se-iam fórmulas para conter a crescente - e silenciosa - desnacionalização que projetos mega-tecnológicos estrangeiros vinham impondo à Amazônia desde a ditadura militar. A Rio-92 seria a grande oportunidade de propor e validar um fórum internacional para implementação dessa alternativa.
As florestas tropicais úmidas, como a da Amazônia, são bem mais vitais para o clima planetário do que as florestas temperadas e boreais ou do que a tundra. Na verdade, sabemos pouco sobre a interação dos biomas entre si e com o clima global, mas sabemos que toda devastação degrada o sistema global. Assim, não tem sentido o argumento, tão comum no Brasil, de que temos o direito de derrubar as florestas porque aqueles países que agora nos aconselham a preservar fizeram seu progresso derrubando suas próprias florestas. Os erros cometidos não justificam novos erros, e assim como temos o direito de reivindicar um compromisso internacional com a viabilização econômica destas áreas, temos de admitir que derrubar ou não a floresta não é assunto exclusivamente nosso, pois afetará de modo direto a vida bem longe daqui.
Matéria relacionada
MMA participa de homenagem a José Lutzenberger
Redes Sociais