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Ministra abre fórum de educação ambiental

Publicado: Terça, 02 Novembro 2004 22:00 Última modificação: Terça, 02 Novembro 2004 22:00
 

A educação ambiental é um espaço fundamental para formação de novas consciências e importante para um novo eco civilizatório, disse a ministra Marina Silva , nesta quarta-feira, durante abertura do V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, em Goiânia (GO). Segundo a ministra, o esforço que está sendo feito agora parece uma utopia, algo muito distante, mas temos que nos perceber para além do tempo em que vivemos e temos que entender as crianças e os jovens como sendo as mensagens do tempo que estamos mandando para o futuro .

Promovido pelo Ministério do Meio Ambiente, em parceria com a Rede Brasileira de Educação Ambiental o 5º Fórum Brasileiro de Educação Ambiental tem como objetivo contribuir para a avaliação e o fortalecimento da Política Nacional de Educação Ambiental e do Sistema Brasileiro de Informação em Educação Ambiental. O encontro, que termina no sábado, também visa proporcionar aos educadores um espaço para diálogo e troca de experiências.

Para a ministra, o fórum está sendo realizado em um momento rico, onde há a polarização entre a necessidade da conservação, da preservação e a dinâmica do desenvolvimento. Estamos vivendo um momento em que essa polarização tenta passar a idéia de que quem discute valores e éticas é tratado como ideológico, como fora de moda, e acrescentou: se para entrar na moda não se pode mais sonhar, não se pode mais orientar aquilo que nós fazemos, que nós dizemos por um novo eco civilizatório que preserve e sustente a vida, então eu quero continuar fora de moda.

Marina Silva lembrou para os educadores que capacidade de suporte do planeta não comporta a forma de consumo e de produção . Temos que repensar nossa forma de produzir e de consumir. Se nós fôssemos dar o mesmo padrão de satisfação dos países desenvolvidos para os seis bilhões de seres humanos existentes no planeta, precisaríamos de quatro planetas Terra, e como nós só temos esse, temos que repensar nossa forma de produzir e de consumir, do contrário estaremos comprometendo praticamente a existência da vida no planeta, disse a ministra.



Um dos resultados do encontro, que termina no sábado, com atividades paralelas e oficinas de trabalho, será a conclusão da consulta pública para o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNea). A versão em livro do Programa, formulada pelos ministérios do Meio Ambiente e da Educação passou por uma discussão em todos os estados brasileiros, além de ter sido debatida em audiência pública na Câmara dos Deputados pelo diretor de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Marcos Sorrentino. Mais informações e programação completa em www.mma.gov.br/port/sdi/ea/vforum/index.sfn

 

Íntegra do discurso

 

Discurso da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na abertura do V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental no Centro de Convenções de Goiânia (GO)

3 de novembro de 2004



Gostaria, primeiro, de cumprimentar o esforço que vem sendo feito pela Rede de Educação Ambiental (Rebea), por todas as redes, que é a rede da rede, o avesso do avesso, como diz a poesia; o esforço das nossas equipes, Ministério da Educação, Ministério do Meio Ambiente; os nossos parceiros, agradecendo o governo do estado, a prefeitura, o Basa, a Petrobras, a Caixa Econômica, a todos aqueles que nos ajudaram a realizar esse importante evento. O especial empenho do Marcos Sorrentino, juntamente com Raquel e os representantes da Rede, para a realização desse encontro. Desde 1997, quando tivemos o IV Fórum de Educação Ambiental, sabemos do grande esforço para que tivéssemos o V Fórum, e, infelizmente, só foi possível acontecer agora. O ano passado, nós já sabíamos desse déficit de quase cinco anos de expectativa do Fórum. Trabalhamos fortemente para que neste ano de 2004 já pudéssemos estar dando essa resposta, porque sabemos que a educação ambiental é um espaço fundamental da formação de novas consciências. Eu diria que aqui nós temos algo que é muito importante para aquele que quer fazer uma política pública voltada para as demandas do presente e do futuro, que é estar lidando com o seu PIB intangível. Geralmente a gente olha para os números, para as cifras, buscando a política de resultado. Eu diria que aqui nós temos o resultado, mas temos também a latência daquilo que será quando o resultado não é alcançado pela nossa visão imediatista. Tenho certeza que o trabalho que é feito está criando novos agentes para uma nova consciência, uma nova atitude, um novo eco civilizatório, aonde as nossas crianças, os nosso jovens  e espero que um dia os nossos idosos e adultos - já tenham essa consciência como uma prática do seu cotidiano. No meu entendimento, esse é um esforço muito importante.

Nós estamos vivendo um momento muito rico. E esse encontro se dá nesse momento de riqueza, que é exatamebnte a polarização que está sendo feita entre a necessidade fundamental da conservação, da preservação e a dinâmica do desenvolvimento. Por que que temos essa riqueza? Porque essa polarização não é uma tentativa de contrapor o meio ambiente ao desenvolvimento, e vice-versa, como se as duas coisas tivessem que ser necessariamente inconciliáveis nos levando para uma situação de não resolvermos adequadamente os nosso conflitos. É claro que essa contradição existe. Mas o homem, já disse alguém antes de nós, só levanta problemas que ele é capaz de resolver. E só nós estamos identificando que os recursos naturais são finitos e de que a capacidade de suporte do planeta não comporta a nossa forma de consumo e a nossa forma de produção. Então nós temos que repensar a nossa forma de produzir e a nossa forma de consumir. Só que antes de fazermos esse repensar, nós temos que também avaliar a nossa forma de nos sentirmos felizes, satisfeitos. Porque é exatmente desse buraco negro, que tem dentro de nós, que as coisas parece que vêm para preencher aquilo que não somos. Nós temos uma prática de consumir, de produzir que é insuportável pelo planeta. Se nós fôssemos dar o mesmo padrão de satisfação dos países desenvolvidos para todas as pessoas, os seis bilhões de seres humanos existentes no planeta, nós precisaríamos de quatro Planeta Terra. E como nós só temos esse, então nós temos de repensar nossa forma de produzir e de consumir. Do contrário, nós estaremos comprometendo praticamente a existência da vida no Planeta.

O esforço que está sendo feito agora parece uma utopia, algo muito distante, mas nós temos que nos perceber para além do tempo em que vivemos, e temos que entender que os nossos jovens, as nossas crianças, como sendo a mensagem do tempo que nós estamos mandando para o futuro em que nós não estaremos lá. E isso se reveste com as palavras do frei Leonardo Boff, do cuidado: do cuidado com a vida, do cuidado com o belo, do cuidado com a terra, do cuidado com o ético, do cuidado com tudo aquilo que sustenta e promove a vida. É nesse contexto que se dá essa discussão. Pensar a educação é pensar acima de tudo em valor. Nós estamos vivendo um momento em que essa polarização tenta passar a idéia de que quem discute valores, quem discute ética, quem tenta pensar, sonhar e realizar sonhos, quem tenta ter uma posição calcada em valores como orientador da sua ação do cotidiano, é tratado como sendo descolado da realidade, é tratado como se fosse ideológico, é tratado como se fosse fora de moda. Eu me sinto uma pessoa completamente fora de moda, e quero continuar sendo fora de moda. Se para entrar na moda, não se pode mais sonhar; se para entrar na moda não se pode mais orientar aquilo que nós fazemos, aquilo que nós dizemos, por um novo eco civilizatório que preserve e sustente a vida, então eu quero continuar sendo fora de moda. Porque eu sou do tempo em que todos nós (não é tanto tempo assim) achávamos muito bonita a poesia e a música do poeta que dizia: ideologia, preciso de uma para viver. Hoje, precisar de algo para viver como sustentáculo de uma concepção de mundo, de uma concepção de vida, parece ser incompatível com a dinâmica da pressa do mercado. Porque o mercado trata as coisas como produto e como oportunidade. Mas quando a gente tem valores, a gente a ver a oportunidade e a conveniência da oportunidade. Às vezes, a lógica de mercado quer nos impor a tratar as coisas como se fosse um número. Sabemos que é importante quantificar as coisas, mas sabemos que existe algumas delas que estão num estado de latência que não estão quantificadas, e que mesmo assim são tão importante quanto.Às vezes, há uma pressa pelos resultados. Sabemos que são muito importantes os resultados. Quem não que resultados para o tratamento da Aids, quem não quer resultados para o combate ao analfabetismo, quem não quer resultados para o combate à fome dos seres humanos existentes no planeta. Todos queremos. Mas nós entendemos que esses resultados não podem estar separados do processo. Que os fins não podem estar separados dos meios, porque se nós não utilizarmos os meios corretos, com certeza os nossos fins também estarão comprometidos. É nesse contexto que nós estamos sentados aqui, nesse Fórum para discutir os rumos da educação ambiental. O que ela já contribuiu, o que ela está contribuindo e o que ela pode contribuir, entendendo educação ambiental como um processo que vai para além da sala de aula, que acontece no cotidiano, na relação das pessoas umas com as outras, na relação do indivíduo consigo mesmo, na relação do indivíduo com a natureza e com as outras formas de vida, porque existe uma ética da vida, e nada indica que seja apenas a ética da vida dos humanos. É uma ética da vida de um modo geral, que, inclusive, ajuda a sustentar a vida dos humanos. Dentro dessa visão pragmática das coisas, se sobrepondo aos valores, temos já uma realidade muito clara. A que devemos nos dar conta de que aqui no Brasil estamos consumindo boa parte dos nossos recursos naturais, inclusive da nossa água. Nós já somos grandes exportadores de água. Certo dia, o presidente da Agência Nacional de Águas, dr. Jerson Kelman, me dizia que para produzir um quilo de grãos precisamos de mil quilos de água; para produzir um quilo de frango, precisamos de dois mil quilos de água. Para os países que têm escassez de recursos hídricos é melhor comprar os grãos e os frangos do Brasil, algumas vezes sem os cuidados ambientais adequados, do que fazer esses investimentos no país de origem. Logo, nós estamos vendendo água em forma de commodities. Se nós não tivermos o cuidado adequado com as nossas riquezas naturais, com os serviços ambientais que elas prestam, nós não estaremos lidando com a dinâmica do desenvolvimento e da sustentabilidade.

Desde que assumimos o governo, procuramos trabalhar a idéia de uma política ambiental fulcrada em valores, em conceitos, em princípios. E esses princípios são de desenvolvimento sustentável, do controle e da participação social, do fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente como nosso mandato precípuo estabelecido no artigo 225 da Constituição Federal e ao mesmo tempo de uma política ambiental integrada. Às vezes parece um desaforo pensar em política ambiental integrada, mas eu fiquei muito feliz de ouvir do meu colega do MEC, representando aqui o meu amigo ministro Tasso Genro, de que nós estamos trabalhando muito bem. As mais de 30 mil pessoas que ele está treinando para a educação ambiental, eu jamais teria os recursos para fazê-lo, mas estamos fazendo com os mesmos propósitos, com os mesmos conceitos, com os recursos do MEC. Eu jamais teria dinheiro para criar 27 delegacias especializadas de combate a crimes ambientais, de tráfico de animais silvestres, biopirataria no Brasil inteiro. Mas o Ministério da Justiça, graças aos nossos conceitos, a idéia de política ambiental integrada, criou as 27 delegacias. Hoje o ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, me dizia: Marina, o concurso para os cinco mil agentes federais, se prepare, porque os seus estarão nas 27 delegacias para combater os crimes ambientais. Isso faz a diferença. É um esforço novo. É a primeira vez que se está fazendo isso. Há momentos de tencionamento? Há momentos de tencionamento. Mas nós temos que saber, ter a consciência de que não há outro caminho. E se queremos ser coerentes, traduzindo aquilo que ensinamos, com aquilo que fazemos, o que nós ensinamos e fazemos, se estamos nos postos públicos, ou na nossa empresa, ou na nossa casa, tem que ser traduzido na prática. E é por isso que o novo modelo do setor elétrico já incorpora a variável ambiental no planejamanto das ações. Acabei de assinar uma portaria com o ministro dos Transportes para que sejam feitos vários termos de ajustamento de conduta para regularização da malha viária do país, que foi feita e consolidada há 20, 30 anos, quando não existia licença ambiental. Qual é o compromisso, qual o levantamento do passivo ambiental que envolve essas estradas para termos um programa edificante para uma agenda positiva.

Quero concluir, dizendo que esse é um esforço inovador. Ter 13 ministérios no programa de combate ao desmatamento da Amazônia, é algo que é muito forte. Agora, mas impressionante do que isso, é verificar que mesmo trabalhando junto a sociedade, o Ministério da Justiça, o Ministério da Defesa, do Meio Ambiente, do Trabalho, ainda é muito pouco diante do que precisa fazer. E eu fico pensando: Meu Deus, como seria, como era antes, sem esse esforço integrado. Saiu recentemente numa matéria de um jornal de circulação internacional, dizendo que na Amazônia, o trabalho escravo, o desmatamento caminham juntos. E de fato caminham. E sabe por que que estão aparecendo os números? Boa parte está aparecendo porque nós estamos colocando o dedo na ferida. Nas 19 bases que foram identificadas, mais sete estão em funcionamento, trabalhando de forma integrada, Polícia Rodoviária, Polícia Federal, Ministério da Defesa e Exército, o Ibama, Ministério do Trabalho. Só este ano nós já libertamos 280 pessoas com trabalho escravo dentro de fazenda. A apreensão de 70 mil metros cúbicos de madeira, a apreensão dos equipamentos pesados, tratores, motores, bombas de abastecimento, aparelhos sofisticados de comunicação por satélite, tudo isso apreendido para dar um prejuízo nos contraventores. E é claro que quando você põe o dedo na ferida o problema aparece. E o problema aparece em todos os aspectos. Aonde há contradição de encamainhamento elas vêm à tona. Mas nós temos que ter a clareza e a firmeza para tentar resolver e superar. Aonde vem de concepção, elas também aparecem. Mas, o mais importante é que quando temos a clareza dos propósitos, a firmeza dos princípios, nós sabemos que eles são maiores do que a nossa situação temporária aqui na Terra em todos os sentidos. E é com esse espírito que o Ministério do Meio Ambiente, dentro da política de governo que nós temos trabalhado, no sentido de uma política integrada que possa a fazer a diferença, que possa estabelecer novos procedimentos, para conter a dinâmica da destruição. Para isso, é preciso a sustentabilidade econômica, a sustentabilidade social, ambiental, política, cultural e ética. E a sustentabilidade política é isso aqui. É uma nova opinião pública, são novos valores, as pessoas querem mais do que um produto. (Para nós essa garrafa pode ter um importante valor, porque não tem trabalho escravo, porque não estão negados os direitos sociais Ou essa peça aqui se for de metal pode ter sido feita sem precisar poluir o meio ambiente) isso é mais do que uma coisa, isso é um valor. E é com nesses valores que temos que trabalhar. No espaço da educação ambiental, no nosso fazer cotoidiano, na nossa prática como gestor, como formador de opinião, como educador, no que for. E é com esse espírito que eu tenho orientado a minha ação no Ministério do Meio Ambiente. Para terminar, gostaria apenas de citar muito rapidamente que o Ministério do Meio Ambiente está também apoiando os projetos concretos. Nós sabemos que é muito importante. Nós lançamos agora o Edital do Fundo Nacional do Meio Ambiente no valor de R$ 5 milhões para seleção de dez projetos, de dez estados diferentes, na lógica de um para um: o governo federal põe R$ 1, o governo estadual põe R$ 1, logo serão R$ 10 milhões. O Ministério da Educação também estará nos seus programas também apresentando recursos. E é desta forma que a gente vai poder estar fazendo a diferença do ponto de vista prático, inclusive para o apoio aos projetos de educação ambiental. Por último, queria dizer o seguinte: estamos vivendo um momento em que precisamos ter cada vez mais coerência e firmeza de propósitos, e para mim uma coisa que ilustra bastante essa idéia de firmeza e clareza de propósitos é a história de um soldado que foi perguntar para um velho general como é que se tornava uma pessoa invencível na espada, na arte de manusear a espada. E ele olhou para o jovem e disse: está vendo aquela pedra bem grande lá no fm do campo? O jovem disse: Estou. Então vá lá. Insulte aquela pedra. O jovem falou: Eu não sou louco. Essa pedra não vai me dizer palavras. E voltou. E perguntou novamente. Ele disse, tá vendo aquela pedra, vá lá, agrida aquela pedra. Ele disse, não, porque se eu for agredir a pedra com a minha espada, eu vou quebrar a minha espada; se eu for agridir a pedra com a minha mão, eu vou machucar a minha mão. Eu quero saber como é que se torna um mestre no manuseio da espada. O velho general disse para aquele jovem: Para você ser mestre no manuseio da espada, para ser invencível no manuseio da espada, você tem que ser como aquela pedra, que sem dizer uma palavra, sem desembanhar a espada, sem fazer um movimento, ela deixou bem claro para o seu adversário que é invencível. Tem algumas coisas que a gente tem que ter essa firmeza de propósito, mesmo quando a gente não pode dizer tudo que pensa, não pode se envolver em tudo que gostaria e que tem a firmeza da rocha. Para mim, educação é isso, a firmeza da rocha, e ao mesmo tempo a fluidez da água, que é capaz de tomar a forma do espaço em que ocupa.

É com essas palavras que eu quero desejar boa sorte a todos os educadores e educadoras que estão fazendo um novo eco civilizatório pela educação ambiental.

Muito obrigada!


 

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