LUCAS TOLENTINO
Enviado especial a Marrakech
O marroquino Mustapha Hatalib, 56 anos, nasceu em um vilarejo interiorano do país, próximo à Cordilheira do Atlas. De origem berbere, povo que habita o norte da África, Mustapha mudou-se para Marrakech, um dos maiores centros urbanos do Marrocos, à procura de oportunidades. Há 16 anos, trabalha como cocheiro de umas das centenas de carruagens que conduzem turistas e moradores pelas ruelas da cidade. Sem saber, contribui para um meio de transporte tipicamente local e favorável ao planeta.
A chegada da 22ª Conferência das Partes (COP 22) sobre mudança do clima a Marrakech, porém, mudou a visão de Mustapha e do restante da população local. Até esta sexta-feira (18/11), representantes de mais de 190 países estão na cidade marroquina para definir os detalhes do Acordo de Paris. O compromisso busca mudar os padrões industrias de produção em todo o mundo, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, assim, conter o aquecimento do planeta.
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Líder nas negociações climáticas, o Brasil desempenha papel de destaque na COP 22. A delegação nacional na Conferência é chefiada pelo ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, e tem um espaço destinado a divulgar as diversas políticas ambientais brasileiras para o mundo. Entre elas, estão os resultados no combate ao desmatamento e a promoção de uma matriz energética renovável. Também entram nessa lista as medidas ligadas a temas como desenvolvimento social e adaptação à mudança do clima.
MOVIMENTAÇÃO
A COP 22 ocorre em um complexo das Nações Unidas montado em Bab Ighli, bairro na região sul de Marrakech. Mas toda a cidade tem vivido tanto a movimentação gerada pela Conferência quanto a mudança do clima em si. Para a marroquina Fatiha Tati, 38 anos, as alterações são visíveis. Desde a adolescência, ela trabalha na praça central de Marrakech e conta que, anos atrás, as chuvas eram mais frequentes entre o outono e o inverno. “Agora, é raro chover”, constata.
Colega de Fatiha, a jovem Maryam Montalib, 20 anos, endossa: “em Marrakech, é sempre calor”. Ambas afirmam desconhecer as causas do fenômeno. No entanto, o aumento no número de estrangeiros que circulam pela praça onde trabalham e a descoberta de que a cidade está hospedando uma importante Conferência sobre o tema despertaram o interesse das marroquinas. “É preciso mesmo fazer algo, se não será impossível habitar o planeta”, avalia Fatiha.
CONSCIÊNCIA
Os costumes locais fazem jus à consciência ambiental necessária para melhores condições climática e de vida mundo afora. Em Marrakech, por exemplo, é comum que pessoas diferentes dividam um mesmo táxi quando vão para um mesmo lugar ou para regiões próximas. A bicicleta é também um meio de transporte bastante usado por grande parte da população.
Em relação ao lixo, não é diferente. Mesmo nas barracas de rua das feiras, não são usados utensílios descartáveis para alimentação. Toufik Hakmoun, 24 anos, tem uma barraca de sucos de frutas no centro da cidade e só usa copos de vidro para os clientes. Segundo ele, é uma maneira de baratear o negócio e evitar a produção excessiva de resíduos sólidos. “Precisamos fazer a nossa parte”, observa.
A COP 22
Mais de 190 países estão representados na COP 22 da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês). O objetivo do encontro é dar seguimento à regulamentação do Acordo de Paris, concluído no fim do ano passado e já em vigor desde o último dia 4. O esforço global é manter o aumento da temperatura média do planeta bem abaixo dos 2ºC em relação aos níveis pré-industriais e garantir esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC.
Pelo Acordo, cada país tem metas específicas para cumprir e, com isso, fazer a sua parte frente ao aquecimento global. Considerado um dos mais ambiciosos, o compromisso brasileiro é cortar 37% das emissões de gases de efeito estufa até 2025, com indicativo de chegar a 43% de redução até 2030. Ambos os percentuais são em comparação aos níveis registrados em 2005. Para isso, o Brasil propõe uma série de políticas e ações que valem para todos os setores da economia.
GLOSSÁRIO
Veja os principais termos para entender o que está em jogo:
Efeito estufa - Apesar de ser um fenômeno natural, o efeito estufa tem aumentado nas últimas décadas e gerado as mudanças do clima. Essas alterações decorrem do aumento descontrolado das emissões de gases como o dióxido de carbono e o metano. A liberação dessas substâncias na atmosfera ocorre por conta de diversas atividades humanas, entre elas o transporte, o desmatamento, a agricultura, a pecuária e a geração e o consumo de energia.
UNFCCC – A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) foi criada a partir da Rio 92 com o objetivo de estabelecer medidas para frear o aquecimento global decorrente do aumento das emissões de gases de efeito estufa. Atualmente, 195 países são signatários da UNFCCC.
COP – A Conferência das Partes (COP) é o órgão máximo da UNFCCC. Todos os anos, representantes dos 195 países reúnem-se, na COP, para elaborar propostas de mitigação e adaptação às mudanças do clima e para acompanhar o andamento dos acordos estabelecidos anteriormente. A cada ano, o encontro é realizado em uma cidade diferente. A 22ª edição da COP ocorre até esta sexta-feira (18/11), em Marrakech.
NDC – As Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) representam o compromisso dos signatários da UNFCCC com a redução de emissões de gases de efeito estufa em seus próprios territórios. Até agora, 111 países, incluindo o Brasil, já transformaram essas metas em leis nacionais.
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