LUCIENE DE ASSIS
O clima semiárido, característico de boa parte do sertão nordestino, castiga o povo do entorno da cidade baiana de Ipirá, marcado por grandes períodos de seca e chuvas ocasionais. Ali, a água que cai do céu é insuficiente e se concentra apenas nos meses de fevereiro a abril. Por isso mesmo, Ipirá foi um dos 41 municípios do semiárido baiano escolhidos para receber sistemas de dessalinização. Oito desses sistemas serão entregues neste sábado (4/6), a partir das 9h30, às 800 famílias das comunidades rurais de Cachoeirinha, Amparo, Estaleiro, Vista Nova, Cascavel, Hu, Sítio Novo e Rosário.
Localizada no polígono das secas, a área rural de Estaleiro será palco do ato de entrega dos sistemas de dessalinização implantados pelo Programa Água Doce (PAD), resultado de uma parceria entre o MMA e a Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia (Sema/BA). Participam do evento o governador da Bahia, Rui Costa; representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA), entre eles o coordenador nacional do Programa Água Doce, Renato Saraiva Ferreira; o coordenador do Programa Água Doce na Bahia, Ruben Angel Zaldivar Armua; prefeitos, e representantes das comunidades beneficiadas e de movimentos sociais.
MELHOR QUE MINERAL
Nas proximidades de Estaleiro, os moradores da comunidade de João Velho do Ipirá comemoram o acesso à água doce. De acordo com o presidente da Associação Comunitária do local, Salvador de Almeida Santos, 43 anos, “antes, a gente tomava água de barreiro e, hoje, a água é de ótima qualidade, melhor que a mineral”. Ele garante: “Está muito melhor que antes”.
Água para beber sempre foi um problema sério também para o pessoal da zona rural de Cachoeirinha. Mas, com a instalação do dessalinizador, a realidade é outra. “Agora, a água é boa, boa, boa. Toda a comunidade aprovou, porque, antes, era muito ruim, salgada. Hoje, é igual a mineral. Mudou tudo, graças a Deus”, comemora o presidente da Associação Comunitária de Cachoeirinha, o agricultor Arnol Bastos Araújo, 62 anos.
ÁGUA NA SECA
Em Ipirá, as comunidades beneficiadas estão localizados numa área sujeita a longos e repetidos períodos de estiagem, que afetam diretamente as camadas mais vulneráveis da população. O coordenador do PAD na Bahia, Ruben Armua, confirma: “Esta é uma das áreas mais pobres do semiárido baiano”, onde as principais atividades econômicas são a agricultura e a criação de gado, cabras e ovelhas.
O Água Doce é uma ação do governo federal, coordenada pelo MMA, em parceria com diversas instituições federais, estaduais, municipais e sociedade civil. Tem por objetivo estabelecer uma política pública permanente de acesso à água de qualidade para consumo humano por meio do aproveitamento sustentável de águas subterrâneas. O Programa incorpora, em sua metodologia, cuidados técnicos, ambientais e sociais na implantação, recuperação e gestão de sistemas de dessalinização.
O coordenador do PAD na Sema/BA, Ruben Armua, conta que foram investidos, nos oito sistemas em operação, quase R$ 2 milhões. Isso contabilizando os gastos com o diagnóstico socioambiental e técnico, os testes de vazão e as obras, além das oficinas de sustentabilidade socioambiental. Armua explica que “a escolha das comunidades é resultado de um diagnóstico socioambiental, tendo por base a desertificação, o índice de desenvolvimento humano (IDH), o índice de pobreza, o baixo desenvolvimento econômico, a falta de água, o índice de maior de pobreza e de baixa precipitação de chuvas”.
O SAL DA TERRA
O convênio do PAD com o governo do estado da Bahia é o maior do Programa e tem como meta a implantação, recuperação e gestão de 385 sistemas de dessalinização em 41 municípios baianos. Os novos sistemas de tratamento da água salobra beneficiarão cerca de 150 mil pessoas, ao custo de mais de R$ 61,8 milhões.
Por reduzir as vulnerabilidades, no que se refere ao acesso à água no semiárido, o Programa Água Doce é uma medida concreta de adaptação às mudanças climáticas e de segurança hídrica. Estudos indicam que a variabilidade climática na região poderá se intensificar, acentuando a ocorrência de eventos extremos, com estiagens mais severas, gerando consequências diretas na disponibilidade hídrica.
Por isso mesmo, “iniciativas como o Programa Água Doce, que promovem o uso sustentável da água, contribuem para o enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas. Trata-se de um esforço do poder público em internalizar tais preocupações, disseminando boas práticas de uso sustentável da água”, avalia o coordenador nacional do Programa Água Doce, Renato Saraiva Ferreira.
POUCA CHUVA
O semiárido brasileiro possui uma área de quase 970 mil Km², o equivalente a 11% do território brasileiro, abrangendo as populações de Minas Gerais, Bahia, Ceará, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Piauí e Pernambuco. são 1.133 municípios e 21 milhões de habitantes, cerca de 12,3% da população do país, sendo que nove milhões vivem na zona rural.
E a escassez de água na região pode ser explicada pela variabilidade temporal e espacial das precipitações, além das elevadas taxas de evaporação, de evapotranspiração (perda de água de uma comunidade ou ecossistema para atmosfera, causada pela evaporação a partir do solo e pela transpiração das plantas) e das características geológicas dominantes, onde há predominância de solos rasos sobre rochas cristalinas. Essas características explicam a baixa disponibilidade hídrica superficial e a ocorrência de águas subterrâneas salobras e salinas.
Em função dessas particularidades do semiárido brasileiro, a tecnologia da dessalinização se apresenta como uma das poucas alternativas de abastecimento de água às populações rurais da região. E o Programa Água Doce assumiu a meta de aplicar sua metodologia na recuperação, implantação e gestão de 1,2 mil sistemas de dessalinização até 2018, com investimentos de R$ 242 milhões, beneficiando, aproximadamente, 500 mil pessoas nas regiões mais afetadas pela seca.
Edição: Alethea Muniz
Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA): (61) 2028-1165
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