LUCIENE DE ASSIS
Na vida, as coisas funcionam, ainda hoje, da forma como já ensinava, na França do século XVII, Antoine Laurent de Lavoisier, ao profetizar que, na natureza, “nada se perde, tudo se transforma”. Essa lição o catador de material reciclável no lixão do Jardim Gramacho, Rio de Janeiro, Tião Santos, 37 anos, incorporou à sua vida, ao retirar daquele ambiente não apenas seu sustento, mas experiências memoráveis, contadas em filme e, agora, também em livro.
O documentário surgiu de um projeto idealizado pelo produtor inglês Angus Aynsley, que pretendia, inicialmente, relatar o trabalho do artista plástico brasileiro Vik Muniz com os catadores de material reciclável de um dos maiores aterros sanitários controlados da América Latina, hoje desativado. O documentário Lixo extraordinário estreou em 2010, teve boa recepção da crítica e até concorreu ao Oscar em 2011.
Durante os eventos da Semana do Meio Ambiente, organizados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), Tião Santos estará em Brasília, dia 3/6, para uma palestra inspirada no estilo TED no Museu da República, a partir das 19h. E o documentário será um dos temas dessa conversa descontraída. “Espero fazer com que as pessoas entendam a importância ambiental, política e social do trabalho do catador”, explica.
E complementa: “Quero mostrar, também, que é essencial implementar políticas públicas para os catadores e a Associação de Catadores no trabalho de reciclagem no Brasil e, com isso, ajudar economicamente”. Tião insiste: “É essencial destacar a questão do empreendedorismo social e ambiental, e o aspecto da organização de catadores em cooperativa”.
VOANDO ALTO
Em dias mais recentes, novembro do ano passado, o carioca Tião Santos lançou um livro que conta a história surpreendente da sua vida. Tião – Do lixo ao Oscar, publicado pela Editora Leya, foi escrito a quatro mãos, numa parceria com a jornalista Carolina Drago.
Como líder da Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis do Jardim Gramacho, periferia de Duque de Caxias, se mantém proativo e milita em favor de uma economia mais sustentável. Ele admite que chegou mais longe do que esperava, para quem passou a infância brincando no lixão. “A gente transformava o que encontrava no lixo em alimento e diversão”, conta ele. Até que o que era lixo acabou transformando sua vida de forma surpreendente.
Tião é um dos catadores de sucesso nessa atividade, capaz de reaproveitar e transformar em renda parte das 240 mil toneladas de resíduos geradas por dia no Brasil e que podem ser reutilizadas. Fato é que a vida desse carioca começou a se modificar em 2007, quando Vik Muniz decidiu retratar a vida dos trabalhadores do lixão de Jardim Gramacho, produzindo obras de arte a partir de materiais extraídos do lixo.
À época, Tião era presidente da Associação dos Catadores e se tornou um dos principais personagens do documentário Lixo extraordinário. Ele ainda inspirou uma das mais famosas obras de Vik Muniz, exposta em Londres, Inglaterra, construída com petrechos recolhidos no lixão.
FOCO NA CIDADANIA
Tião também está envolvido com o Programa Limpa Brasil, resultado do Projeto Let's do it, considerado o maior movimento mundial de cidadania e cuidado com o meio ambiente. Seu objetivo é promover a conscientização das pessoas em relação ao descarte correto do lixo. A campanha surgiu na Estônia, em 2008, e, desde então, já percorreu mais de 140 países no mundo inteiro.
O movimento foi trazido para o Brasil em 2010 pela empresa Atitude Brasil, especializada em comunicação social, cultural e ambiental. De 2011 a 2014, foram promovidas 22 ações em 20 cidades brasileiras, sempre com foco na educação ambiental dirigida à reciclagem e ao descarte correto dos resíduos, envolvendo mais de 180 mil voluntários. As ações evitaram que mais de 3,2 milhões de quilos de material reciclável fossem jogados no meio ambiente e ainda geraram renda e trabalho para milhares de famílias que vivem da reciclagem.
Edição: Alethea Muniz
Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA): (61) 2028-1165
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