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Vaquejada é estratégia de conservação

A série Boas Práticas desta sexta-feira mostra como a antiga ´pega do boi´  vem se transformando em defesa da Caatinga

Publicado: Sexta, 08 Janeiro 2016 00:00
Crédito: Marta Moraes/MMA Vaqueiro: protetor da vegetação nativa Vaqueiro: protetor da vegetação nativa

Por: Marta Moraes – Edição: Alethea Muniz

  A antiga pega do boi, também conhecida hoje em dia na Caatinga por vaquejada e que vem sendo revivida por vaqueiros do sertão, vem servindo também para conservar áreas na região. Apesar de muitas vezes ser tratada pelo mesmo nome, vaquejada, a pega do boi, prática tradicional no Nordeste brasileiro que ocorre dentro do mato fechado, no meio das árvores, está distante da atividade esportiva, que é, com razão, motivo de questionamentos.

  A pega do boi vem sendo utilizada, em alguns locais no Nordeste, como no assentamento Jacaré Curituba (localizado no município de Canindé de São Francisco, em Sergipe), para a conservação da Caatinga, de suas paisagens, biodiversidade, solos e serviços. As áreas que normalmente seriam desmatadas para plantar capim para o gado estão sendo preservadas, com suas características originais mantidas. Além disso, a prática vem sendo usada como atrativo turístico com curtas apresentações que mostram como o vaqueiro reunia o gado na Caatinga.

LIDA DO GADO

  A pega do boi é uma atividade associada ao ato de vaquejar (de juntar o gado em rebanho) e representa exatamente a lida do gado no tradicional sistema da pecuária extensiva - nos fundos de pastos, pastos livres ou nos campos das caatingas. Compete ao vaqueiro a responsabilidade de, sempre montado no seu cavalo, percorrer longas distâncias na Caatinga para olhar as "aguadas" para saber para onde conduzir os rebanhos.

  No meio da Caatinga, para o vaqueiro nordestino, quanto mais fechada a vegetação melhor. Cobertos de couro, para evitar os cortes dos espinhos, os vaqueiros do sertão vêm mantendo uma tradição cultural, tocando o gado como antigamente, respeitando os animais e o meio ambiente.

  A prática da pega do boi começou quando, nas fazendas de antigamente, o gado era criado solto na Caatinga no chamado regime de pastos livres. “A cada temporada ou fim de estação, os fazendeiros organizavam o que eles chamavam de ‘pega de boi’, uma festa onde se reuniam todos os vaqueiros da região para pegar o gado que vivia solto para ser conduzido para áreas onde existissem pastos em maior abundância”, explica o diretor do Departamento de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente (DCD/MMA), Francisco Campello.

CULTURA VIVA

  Para Silvério Sales, do assentamento Jacaré Curituba, o vaqueiro nordestino é antes de tudo um protetor da Caatinga. “Quanto mais conservada, mais emocionante para ele”, afirma. Silvério lembra que a vaquejada nada mais é do uma representação do dia a dia do vaqueiro sertanejo. “A prática da pega do boi deixa a Caatinga conservada. O que é bom para o ambiente, para o gado e para o vaqueiro”.

  Segundo o produtor Sílvio Leite, do mesmo local, promover a pega do boi no assentamento, no meio da Caatinga, é uma forma de manter a cultura nordestina viva. “Estamos passando nossa tradição aos jovens. No assentamento tomamos a decisão de deixar a reserva legal intacta, transformando-a num campo de vaquejada, conservando o meio ambiente e a cultura popular do nosso povo”, conta Sílvio.

  Francisco Campello diz que a vaquejada pode ser sim uma aliada na conservação do solo e das características originais da Caatinga. “A prática do criatório solto (pecuária extensiva), presente na Caatinga, demonstra a importância do manejo silvopastoril e o valor forrageiro desse bioma”, afirma.

  Campello destaca ainda que, no momento em que o Brasil se compromete a zerar o desmatamento clandestino, essa iniciativa vem se somar aos compromissos anunciados pela Presidência da República para o corte de emissões de gases de efeito estufa e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

PROJETO EM SERGIPE

  Jacaré Curituba,Walmir Mota, Florestan Fernandes (nos municípios de Canindé de São Francisco e Poço Redondo, em Sergipe) e a comunidade Poço Preto, no município de Porto da Folha, integram as áreas de atuação a serem beneficiadas pelo projeto "Manejo de Uso Sustentável de Terras do Semiárido do Nordeste Brasileiro - Sergipe".

  Esse projeto será desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), em cooperação com o PNUD, com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). Terá uma ações focada no Alto Sertão Sergipano apontado como área núcleo do processo de desertificação no estado, envolvendo os municípios Porto da Folha, Gararu, Monte Alegre de Sergipe, Nossa Senhora da Glória e Nossa Senhora de Lourdes, além dos já citados Canindé de São Francisco e Poço Redondo (SE).

  A proposta principal do projeto é fortalecer a estrutura de governança ambiental do manejo de terras, para combater os principais fatores da degradação de terras em Sergipe e no nordeste do Brasil. A iniciativa foi pensada para otimizar e coordenar os programas e políticas públicas existentes, visando o manejo sustentável da terra para reverter a degradação em Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD).

  O projeto irá promover manejo do ecossistema integrado da vegetação da Caatinga nativa através da implementação de um conjunto de boas práticas que, por um lado, garantem ambientes sustentáveis para produção vegetal e animal, ao passo que, por outro lado, reduzem a degradação da terra. Tal fato permite a conservação da biodiversidade e a manutenção das funções do ecossistema, reduzindo as ameaças aos recursos naturais e promovendo a recuperação de áreas degradadas.

 

Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA): 61.2028-1227

 

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