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Na Coopercuc, sempre é dia de umbu.

BOAS PRÁTICAS//Mulheres produzem doces e geleias à base de umbu e outras frutas nativas do sertão

Publicado: Sexta, 23 Outubro 2015 00:00
Crédito: Jorge Cardoso/MMA Benedita: valorização da mulher Benedita: valorização da mulher

 

 

 

 

Por Marta Moraes - Editor: Marco Moreira


Geleia, doce cremoso, compota, doce de corte, nego bom (doce típico servido em pequenos pedaços com açúcar cristal) e o mais recente lançamento, cerveja de umbu (Saison Umbu, com 5% de teor alcoólico). Não é preciso dizer que essa fruta, pequena e de coloração verde, típica da região Nordeste, é o carro chefe dos produtos da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc).

Apesar da presença constante do umbu, a cooperativa também tem produtos com outras frutas da vegetação nativa da região baiana, como maracujá da Caatinga, manga e goiaba.  Por meio da linha Gravetero, criada pelos cooperados, a cooperativa comercializa seus produtos nos mercados mais sofisticados do Brasil e exporta para Itália, França e Áustria.

Além da linha de produtos para varejo, a Coopercuc também possui uma linha de produtos exclusivos para merenda escolar, tais como sucos e polpas, comercializados via o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do governo federal.

PRESERVAÇÃO DO UMBUZEIRO

Uma das coisas que encanta os visitantes na paisagem do semiárido brasileiro são realmente os centenários pés de umbu, que resistem bem a secas e intempéries. Do Tupi Guarani, Ymb-u quer dizer “árvore que dá de beber”. Umbuzeiros centenários têm sido explorados e multiplicados de forma sustentável pela cooperativa, que não chega a usar nem 5% de todo o umbu da região.

Conhecida pelo trabalho de preservação do umbuzeiro, a Coopercuc já teve sua geleia orgânica de umbu premiada pelo slow food (movimento internacional que defende o alimento bom, justo e limpo) com o título de “excelência gastronômica” – comenda concedida aos alimentos artesanais que têm ligação com a história da comunidade, com ênfase na sustentabilidade e em risco de extinção.

O INÍCIO

A Coopercuc, que hoje possui 260 cooperados e beneficia 450 famílias, foi fundada entre 2003 e 2004, mas a história começou muito antes, na década de 1980. Freiras canadenses vieram ao Brasil para apoiar o trabalho produtivo das mulheres da Bahia e garantir a segurança alimentar das famílias.

A sede da Coopercuc fica em Uauá, município do nordeste baiano, mas conta com 18 unidades de beneficiamento distribuídas também em Canudos e Curaçá (BA). As atividades são realizadas dentro das comunidades, que ficam no interior do Ceará, da Bahia e de Pernambuco. Essas vilas são caracterizadas pela pobreza, e o trabalho da cooperativa foi fundamental para elevar a qualidade de vida das famílias e garantir saídas para o êxodo rural, que é uma realidade nessa região.

A ideia inicial era fazer produtos para o consumo da fruta, além da época de colheita (cerca de quatro meses). Mas as pessoas que estavam longe do município de Uauá começaram a encomendar os doces. Isso despertou nas mulheres a percepção de que a atividade podia gerar renda para todas.

MULHERES

Além do umbu, o outro ponto forte da cooperativa fica exatamente por conta das mulheres: 75% dos cooperados são do sexo feminino. A predominância de mulheres nessas comunidades envolvidas não é apenas simbólica.

Segundo Benedita Barbosa, diretora financeira da Coopercuc, antigamente, no meio rural do Nordeste, o papel da mulher era restrito à cozinha, ao cuidado dos filhos e à busca por água, sem participação social.

O trabalho da cooperativa ajudou a mudar essa realidade, promovendo maior participação política e garantindo uma melhor alimentação para a família. Além disso, trouxe ganhos também para o município, cuja economia se movimenta com as atividades da cooperativa e com a vinda de visitantes.

“Quando eu era menina, na década de 1980, era comum as crianças morrerem por falta de uma alimentação adequada na Caatinga. Mas o trabalho da cooperativa mudou tudo. Mudou o relacionamento das pessoas em relação ao solo, à água, com a terra, entre as família, entre homens e mulheres. Houve uma valorização da mulher”, afirmou ela.
“Ser chamada de catingueira era pejorativo. Hoje, temos orgulho de ser nordestinos. Aprendemos a valorizar os produtos e as pessoas da Caatinga. Ajudamos a escrever uma nova história para o nosso município, para o Nordeste.”

PARCERIA

Nos primeiros anos da cooperativa, a iniciativa contou com o apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA), por meio do projeto “Manejo integrado de ecossistema para o bioma Caatinga”, visando a capacitação e a participac¸a~o da cooperativa em grandes eventos, como feiras e exposic¸o~ES a ni´vel nacional e internacional.

O principal objetivo do projeto era promover a conservação e o uso sustentável dos recursos florestais da Caatinga por meio da demonstração de práticas para a produção e utilização sustentável da sua vegetação.

JOVENS

Para evitar a evasão no meio rural, a cooperativa possui um programa de estágio voltado para os filhos dos cooperados, que passam três meses nas unidades de produção, aprendendo todas as etapas. “Nosso intuito é despertar o interesse deles para o trabalho da cooperativa e oferecer uma opção de profissionalização”, afirmou Benedita.

Hoje, a cooperativa já tem três gerações de algumas famílias trabalhando em conjunto. “Meus pais são cooperados. Essa é uma forma de ajudar a cooperativa, de conhecer o trabalho e de me profissionalizar”, afirmou Weverson dos Santos, 21 anos, que está fazendo o estágio.

FESTIVAL

Anualmente, a cooperativa promove o Festival do Umbu, no município de Uauá, para comemorar a safra. Esse ano o evento reuniu mais de 50 mil visitantes, atraídos pela beleza do artesanato de palha e derivados do umbu, licuri e mandioca, produzidos pelas comunidades rurais.

Mais do que celebrar a safra do umbu, o festival é um espaço para a troca de experiências com trabalhadores rurais de diversos Estados e uma oportunidade para o público apreciar apresentações de dança, música e outras manifestações culturais. Na edição de 2015, além da produção da Coopercuc, foram expostos produtos desenvolvidos por agricultores familiares individualmente.

Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA) – (61) 2028.1165

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