Por Marta Moraes – Editor: Marco Moreira
A maior parte do carvão vegetal produzido nas áreas suscetíveis à desertificação no Brasil é feita por meio de processos artesanais em carvoarias precárias e, em muitos casos, clandestinas. Normalmente, essas carvoarias funcionam com madeira extraída de forma ilegal.
Diante dessa realidade, a produção do carvão vegetal no Brasil vem sendo associada, há décadas, ao desmatamento ilegal e à desertificação. Mas um novo modelo vem tornando a produção de carvão mais eficiente e em sintonia com a conservação do meio ambiente. É o carvão ecológico, uma atividade sustentável, capaz de gerar lucro sem causar danos à natureza e ao ser humano.
RESPEITO AMBIENTAL
O carvão ecológico nada mais é que o carvão vegetal produzido de forma ecologicamente correta, ou seja, respeitando o meio ambiente na obtenção da matéria prima (lenha), até o produto final, que é feito por um equipamento com uma maior eficiência energética e por meio de um trabalho realizado de forma mais humanizada.
O principal mercado é a indústria de ferro gusa, matéria prima básica para a produção do aço. O carvão entra na liga deste ferro, ou seja, não entra apenas como fonte de calor, mas sim como um componente do produto.
SUSTENTABILIDADE
Para o diretor de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Francisco Campello, a produção de carvão vegetal pode e deve ser sustentável. “Para que isso ocorra, temos que entender que o termo sustentabilidade vai além da questão ambiental, passando por questões humanas, sociais e econômicas”, destacou. “Cabe aos produtores de carvão vegetal optar por uma linha de produção mais limpa."
Segundo ele, é fundamental apoiar ações que promovam o uso sustentável dos recursos naturais como alternativa ao desmatamento. “Nas áreas suscetíveis à desertificação, por exemplo, as atividades de promoção ao uso sustentável das florestas são uma alternativa de adaptação às secas que podem promover a segurança alimentar dos rebanhos e da população, a segurança hídrica e energética, além de conservar a paisagem e a biodiversidade”, explica.
MATRIZ ENERGÉTICA
O uso sustentável das florestas por meio de sistemas ecológicos é uma alternativa adaptada que promove a convivência sustentável com a semiaridez e assegura a participação da biomassa na matriz energética da região, colaborando na promoção das fontes renováveis de forma sustentável. “Os biocombustíveis sólidos (lenha e carvão) respondem por 30% da matriz energética do Nordeste e podem ser sustentáveis, de baixo custo e de grande inclusão social”, acrescenta Campello.
A produção de carvão ecológico vem surgindo como uma opção promissora na região do Semiárido. O trabalhador da biomassa renovável está sempre ao ar livre, sem exposição ao pó do carvão, diferente do que acontece no sistema tradicional, no qual o trabalhador entra no forno de barro, com o interior a 70º C, temperatura que ameaça sua saúde. Entre os muitos benefícios da atividade se destacam a baixa emissão de gases na atmosfera, devido à diminuição do consumo de lenha, e a não geração de resíduos nos pátios de produção.
EXEMPLO DE ALTERNATIVA
Desde 2009, Victor Teotônio, de 24 anos, vem trabalhando com a produção de carvão ecológico. Tudo começou com a criação, pelo pai dele, Francisco Teotônio Neto Junior, de um equipamento, patenteado, chamado Carbonizador Metálico Semicontínuo, uma revolucionária forma de carbonização de lenha.
Victor instalou em Emas, no Sertão da Paraíba, a primeira unidade de produção de carvão ecológico do Estado, a Ecocarvão. Ele explora uma área de manejo florestal sustentável, totalmente legalizada e licenciada pelos órgãos ambientais.
Em virtude desse trabalho inovador, em junho desse ano, a Ecocarvão foi certificada no prêmio “DrylandChampions – Eu sou parte da solução”, concedido pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), uma iniciativa da ONU, que conta com o apoio do MMA.
COMO FUNCIONA
Atualmente em sua oitava geração, o equipamento representa uma alternativa barata e sustentável, em termos de aproveitamento e eficiência de recursos florestais, para os produtores de carvão vegetal.
“O modelo se propõe a reduzir consideravelmente o consumo de madeira necessária para processar o carvão. Pode ainda, ser montado e desmontado sempre que necessário, aproximando-se do local de produção, conta Teotonio. Ao contrário dos demais fornos, dispensa o contato de trabalhadores no seu interior durante o preparo e arrumação da lenha que antecede cada fornada”, conta Teotonio.
Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA) - (61) 2028.1173
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